Page 271 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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agitava toda a folhagem à volta.
Shasta já não temia que a voz pertencesse a alguma coisa que o
devorasse; nem temia que fosse a voz de um fantasma. Uma coisa nova
aconteceu, um tremor que lhe deu certa alegria.
A névoa passou do pardo para cinza e do cinza para branco. Devia ter
começado pouco antes, enquanto ele estava absorvido conversando com a
coisa.
A brancura ao redor já começava a fulgir. Passarinhos cantavam em
algum lugar. A noite estava por um fio. Já enxergava bastante bem a crina e
as orelhas do cavalo. Uma luz dourada surgiu à esquerda, e Shasta pensou
que fosse o sol.
Caminhando a seu lado, maior do que o cavalo, estava um Leão. O
cavalo não parecia ter medo, ou talvez não o visse. Era dele que vinha a luz
dourada. Ninguém jamais viu algo tão belo e terrível.
Felizmente o menino vivera toda a sua vida no Sul, e não havia
escutado os casos, cochichados em Tashbaan, sobre um tétrico demônio de
Nárnia que costumava aparecer na forma de leão. E, naturalmente, também
tudo ignorava sobre as verdadeiras histórias de Aslam, o Grande Leão, o
filho do Imperador-dos-Mares, o Rei dos Grandes Reis de Nárnia. Mas,
depois de espiar mais uma vez o Leão, pulou do cavalo. Não conseguia
dizer nada, mas também não queria dizer nada, e sabia que nada precisava
dizer.
O Grande Rei encaminhou-se para ele. A juba e um perfume estranho
e solene, que nela pairava, cercaram o menino. O Leão tocou a fronte de
Shasta com a língua. Os olhos de ambos encontraram-se. Depois,
instantaneamente, a brancura da névoa misturou-se com o brilho ardente do
Leão, num redemoinho de glória, e os dois sumiram. Shasta se viu só, com
o cavalo, na relva de uma colina, sob um céu azul. Todas as aves do mundo
cantavam.