Page 268 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O cavalo não tomou conhecimento da ameaça. Shasta firmou-se na
sela, agarrou-se com os joelhos, cerrou os dentes e tacou os calcanhares no
cavalo com toda a força.
Resultado: o cavalo troteou, ou coisa parecida, cinco ou seis passos, e
voltou à boa vida. Já estava escuro. “Teriam esquecido de tocar a trompa?,
pensou. “Bem, de qualquer forma, mesmo a passo devemos chegar a algum
lugar. Só espero que nesse lugar não esteja Rabadash com a sua gente.”
Começou a sentir raiva daquele cavalo; e também começou a sentir
fome. Estava chegando a um ponto em que a estrada fazia uma bifurcação.
Qual seria o caminho de Anvar? Foi quando ouviu um barulho pelas costas,
um ruído de cavalos a trote. “É Rabadash!”, pensou. “Que estrada devo
pegar? Se eu tomar uma, ele pode pegar a outra; mas, se fico aqui na
encruzilhada, eu é que vou ser pego.” Apeou e conduziu o cavalo pelo
caminho da direita.
Aproximava-se o som da cavalhada. Já deviam estar na encruzilhada.
Com a respiração presa, ficou aguardando. Que caminho tomariam?
Ouviu um brado: “Alto!” Depois, ruídos cavalares, ventas assoprando,
cascos golpeando, tapinhas em pescoços. E uma voz falou:
- Atenção! Já estamos perto do castelo. Lembrem-se das instruções.
Devemos chegar a Nárnia ao nascer do sol; matem o menos possível. Nesta
incursão, um litro de sangue narniano é mais precioso que três litros do seu
próprio sangue. Nesta incursão, eu disse! Os deuses hão de propiciar-nos
uma hora mais feliz, aí vocês não deixarão nada vivo entre Cair Paravel e o
Deserto do Oeste. Mas ainda não chegamos a Nárnia. É diferente aqui em
Arquelândia. Só a rapidez importa no assalto ao castelo do rei Luna. Será
meu, dentro de uma hora. Mostrem o seu valor. O castelo será de vocês.
Nada quero da pilhagem. Executem todos os machos bárbaros dentro das
muralhas, até mesmo os recém-nascidos, e o resto será de vocês: mulheres,
ouro, jóias, armas e vinho. O homem que hesitar ao cruzar as portas do
castelo será queimado vivo. Em nome de Tash, o irresistível, o inexorável -
em frente!
Com grande estrépito, a coluna adiantou-se e Shasta pôde respirar:
tinham tomado o outro caminho. Levaram um tempo enorme para passar,
pelo menos era o que parecia, e só então Shasta realmente compreendeu o
que significavam “duzentos cavalos”. Quando o estrépito desapareceu, só
ficou o doce barulho das ramagens.
Sabia o caminho para Anvar, mas não podia ir para lá. Seria correr
para os braços armados dos homens de Rabadash. “Que diabo de coisa
posso fazer?” Não tendo resposta para si mesmo, montou de novo e seguiu
pela estrada que havia escolhido, na vaga esperança de encontrar uma