Page 263 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 263

lembrar do que acontecera, tentou mudar de posição, mas sentiu terríveis
                  dores nas costas. Então lembrou-se de tudo.

                        O eremita entrou, carregando uma vasilha de madeira.

                        - Como está, minha filha?

                        - Minhas costas doem muito, mas estou bem. Ajoelhado, ele colocou a
                  mão na testa de Aravis e tomou-lhe o pulso.
                        - Não tem febre. Ficará boa. Poderá levantar-se amanhã. Beba isto.

                        Levou a vasilha aos lábios da moça, que fez uma careta, pois o gosto
                  do leite de cabra assusta um pouco quem o toma pela primeira vez. Mas
                  Aravis bebeu tudo e sentiu-se melhor.

                        - Pode  dormir  quanto  quiser,  filha.  Seus  ferimentos  estão  bem
                  tratados; ardem mas não são graves. Deve ser um leão estranho: em vez de
                  arrancá-la da sela e meter-lhe os dentes, apenas lanhou as suas costas. Dez
                  lanhos: dolorosos, mas nada profundos nem perigosos.

                        - Tive sorte.
                        - Minha filha: já vivi cento e nove invernos e jamais encontrei uma

                  coisa chamada sorte. Há algo de misterioso no que está acontecendo mas,
                  esteja certa, se precisamos saber o que é, saberemos.
                        - E quanto a Rabadash e os seus duzentos cavalos?

                        - Acho que não passarão por aqui. Devem ter encontrado um vau no
                  rio e seguido para leste. De lá tentarão cavalgar em linha reta para Anvar.

                        - Coitado de Shasta! Tem de ir muito longe? Chegará primeiro?
                        - Há muita esperança. Aravis deitou-se de lado:

                        - Dormi durante muito tempo? Parece que está ficando escuro.

                        O eremita olhou pela única janela que dava para o norte.

                        - Esta escuridão não é a da noite. As nuvens estão vindo do Pico da
                  Tempestade. O mau tempo aqui sempre chega de lá. Haverá forte cerração
                  hoje à noite.

                        No  dia  seguinte,  tirando  a  dor  nas  costas,  Aravis  sentia-se  tão  bem
                  que, depois de comer mingau e tomar leite, levantou-se da cama, autorizada
                  pelo  eremita.  Foi  imediatamente  conversar  com  os  cavalos.  O  tempo
                  mudara, e o pátio, como uma grande taça verde, transbordava de luz.
                        Huin deu um trote até Aravis e deu-lhe um beijo eqüino.

                        - Onde anda Bri? - falou Aravis, depois das perguntas recíprocas de
                  “como está se sentindo?”, “dormiu bem?”.

                        - Está ali - respondeu Huin, apontando com o focinho para um canto
   258   259   260   261   262   263   264   265   266   267   268