Page 259 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                   UM EREMITA NO CAMINHO





                        Depois  de  várias  horas  de  jornada,  o  vale  se  alargou;  o  rio  que
                  seguiam afluía a um rio mais largo e turbulento, que descia da esquerda
                  para  a  direita,  na  direção  do  poente.  Bela  paisagem  desvendava-se,  com
                  cerros  baixos,  um  após  o  outro,  no  sentido  das  próprias  montanhas  do
                  Norte. Alteavam-se à direita cumes rochosos, dois deles riscados de neve
                  nas  arestas.  À  esquerda,  colinas  de  pinheiros,  gargantas  estreitas,  picos
                  azulados que se reproduziam até onde a vista podia alcançar. A cordilheira
                  na  frente  abaixava-se  para  o  que  decerto  deveria  ser  o  desfiladeiro  que
                  levava de Arquelândia a Nárnia.

                        - Bru-ru-ru, o Norte, o verde Norte! - relinchou Bri.

                        De fato, as colinas mais baixas pareciam a Shasta e Aravis muito mais
                  verdes e vivas do que o normal, já que os seus olhos eram acostumados à
                  paisagem do Sul. O entusiasmo cresceu quando chegaram em algazarra ao
                  ponto de encontro dos dois rios.

                        O  rio  que  rolava  das  montanhas  mais  altas  era  por  demais  veloz  e
                  encachoeirado  para  que  lhes  ocorresse  a  idéia  de  cruzá-lo  a  nado.  Mas,
                  depois  de  investigar rio  acima  e  rio abaixo, acabaram  achando um  lugar
                  que poderia ser vadeado. O ronco das águas, o ar frio, as libélulas, tudo
                  aumentava a estranha emoção de Shasta.

                        - Meus amigos, estamos em Arquelândia! - disse Bri, com orgulho, a
                  chapinhar na direção da margem norte. Acho que este é o rio que chamam
                  de Flecha Sinuosa.
                        - Só espero que cheguemos a tempo - murmurou Huin.

                        Depois  começaram  a  subir,  lentamente,  ziguezagueando  quase
                  sempre. Nem estradas, nem casas à vista. Ao invés de agrupadas no que se
                  poderia  chamar  de  uma  floresta,  as  árvores  se  dispersavam  por  todos  os
                  lados. Shasta, que passara toda a vida em campos de poucas árvores, jamais
                  vira tantas e tão diferentes. Coelhos debandavam à aproximação deles, e
                  um bando de gazelas saiu de repente correndo pela mata.

                        - Não é mesmo uma maravilha?! - exclamou Aravis.

                        Shasta  virou-se  na  sela  e  olhou  para  trás:  nem  o  menor  sinal  de
                  Tashbaan; só o deserto, sempre o mesmo, exceto a garganta verde pela qual
                  haviam passado, estendendo-se até o horizonte.
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