Page 256 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 256
Entretanto, acabou surgindo uma coisa diferente: um bloco de pedra
fincado na areia, com uns dez metros de altura. Com o sol já muito alto, a
sombra do bloco de pedra era pouca. Foi para esse pouquinho de sombra
que correram e aí se amontoaram. Comeram e beberam um gole de água.
Não é fácil dar água a um cavalo com um cantil, mas Bri e Huin souberam
usar os beiços com habilidade.
Ninguém chegou a ficar satisfeito. Ninguém falou nada. Os cavalos
espumavam e respiravam ruidosamente. As crianças estavam pálidas.
Após um ligeiro descanso, partiram novamente. Os mesmos ruídos, os
mesmos odores, os mesmos fulgores, até que as sombras dos quatro
passaram para o lado direito e foram ficando cada vez mais compridas,
como se quisessem alcançar a extremidade oriental do mundo. Com o sol
posto, felizmente teve fim a reverberação das areias; mas o bafo quente do
chão era cada vez pior. Quatro pares de olhos procuravam excitadamente
um dos sinais referidos pelo corvo. Mas só havia areia. Já iam surgindo as
estrelas, e as quatro criaturas se sentiam infelizes, sedentas e exaustas. Mal
se erguia a lua quando Shasta -com a voz estranha de quem está de boca
seca -gritou:
- Lá está!
Não havia erro. Lá estava uma inclinação do terreno, um declive com
massas de pedra dos lados. Os cavalos, cansados demais para falar, picaram
o passo e, em dois minutos, entraram na garganta. A princípio foi ainda
pior que no areai aberto; respirava-se com dificuldade entre as paredes de
pedra, e o luar mal penetrava. A inclinação prosseguia, e as rochas de lado
a lado pareciam altos penhascos. Encontraram vegetação, plantas como
cactos espinhosos e um capim que picava a pele. Os cascos dos cavalos
pisoteavam seixos e pedras grandes. Por todas as curvas iam buscando
ansiosamente qualquer sinal de água. Os cavalos quase não podiam mais,
extenuados; Huin, aos tropeções, ia ficando para trás. Já quase
desesperados, depararam com um fiozinho de água correndo por um
capinzal menos áspero. O fiozinho virou um arroio, o arroio virou um
riacho e o riacho acabou virando um rio de verdade. De repente, Shasta,
meio zonzo, percebeu que Bri havia parado e que ele caíra da sela. Diante
deles estava uma cachoeira formando uma piscina de água fresca. Os
cavalos começaram a beber, a beber, a beber. Shasta entrou com a água
pelos joelhos e foi meter a cabeça debaixo da cachoeira. Talvez tenha sido
o melhor momento da sua vida.
Só dez minutos mais tarde os quatro começaram a observar os
arredores. A lua já subira o bastante para espreitar o vale. Relva macia
alongava-se pelas margens do rio; além, moitas e árvores. Flores