Page 252 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                           ATRAVÉS DO DESERTO





                        -  Que  horror!  Que  horror!  -  gemeu  Lasaralina.  -  Estou  apavorada,
                  querida. Estou tremendo da cabeça aos pés. Veja só.

                        - Vamos - disse Aravis, que também tremia. - Já foram para o palácio
                  novo.  Estaremos  salvas  lá  fora.  Como  demoraram!  Leve-me  logo  para  a
                  porta da muralha, depressa.

                        - Mas você tem coragem, querida? Olhe o meu estado de nervos! Não,
                  por  favor:  vamos  descansar  um  pouco  e  voltar  para  casa.  No  momento,
                  nem  consigo  dar  um  passo.  Que  nervosismo,  querida!  Quero  voltar  para
                  casa.

                        -Voltar?!

                        - Você não entende, não é? Você é tão pouco compreensiva! - falou a
                  amiga, começando a chorar.
                        “Não é hora para compaixão”, pensou Aravis.

                        - Olhe uma coisa! - e deu umas boas sacudidelas em Lasaralina. - Se
                  disser outra vez a palavra voltar, e se não me levar imediatamente para a
                  porta do rio... sabe o que vou fazer? Vou lá fora e dou um berro... e pegam
                  a gente.

                        - E nós duas então iremos mo... morrer! Você não acabou de ouvir o
                  que disse o Tisroc - que ele viva para sempre!

                        - Ouvi, mas prefiro morrer a me casar com Achosta. Logo, em frente!
                        - Você está sendo má, Aravis. Veja só o meu estado de nervos.

                        Mas Lasaralina acabou entregando os pontos. Voltaram, seguiram por
                  um comprido corredor e chegaram por fim ao ar livre.

                        Estavam  agora  no  jardim  do  palácio  com  aqueles  terraços  em
                  tabuleiros,  cercados  pelas  muralhas  da  cidade.  A  lua  brilhava.  Uma
                  desvantagem  das  aventuras  é  esta:  quando  chegamos  aos  lugares  mais
                  belos, estamos em geral tão aflitos e apressados que não somos capazes de
                  apreciá-los. Por isso Aravis (apesar de lembrar-se anos depois) teve apenas
                  uma vaga impressão de relvados cinzentos, fontes murmurantes, sombras
                  esguias de ciprestes.

                        Quando  chegaram  ao  fim  da  rampa,  e  a  muralha  lhes  barrou  o
                  caminho,  Lasaralina  tremia  tanto  que  não  foi  capaz  de  abrir  o  portão.
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