Page 255 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Bri e Aravis alongavam-se à esquerda. Na lonjura em frente o topo duplo
                  do Monte Piro refulgia, e Shasta achou que se haviam afastado um pouco
                  da linha reta.

                        - Um pouquinho mais à esquerda, um pouquinho mais - comandou.

                        O melhor de tudo era olhar para trás e ver Tashbaan diminuindo de
                  tamanho na distância. Os túmulos ficaram quase invisíveis, engolidos pela
                  vasta  corcova  maciça  que  era  a  cidade  do  Tisroc.  Todos  se  sentiram
                  melhor.

                        Mas  não  por  muito  tempo.  Tashbaan,  muito  longe  quando  olharam
                  pela  primeira  vez,  parecia  permanecer  no  mesmo  lugar  enquanto
                  avançavam.
                        Shasta  parou  de  olhar  para  trás,  para  não  ter  a  impressão  de  estar
                  sempre no mesmo lugar. O sol passou a ser um incômodo, pois o fulgor da
                  areia  doía-lhe  nos  olhos.  O  jeito  era  esfregá-los  e  continuar  fixando  o
                  Monte Piro e comandando a rota.

                        Notou  que o  calor havia  chegado quando,  ao  apear,  sentiu um  bafo
                  quente na face como se tivesse aberto um forno. E, quando ia desmontar
                  mais  uma  vez,  deu  um  berro  de  dor,  um  pé  descalço  na  areia  ardente  e
                  outro no estribo.

                        - Sinto  muito,  Bri,  mas  não  agüento  mais  andar.  Meus  pés  estão
                  pegando fogo.

                        - É claro! Eu devia ter-me lembrado disso. Fique na sela. Não há outro
                  jeito.

                        - Você não tem problema - disse Shasta para Aravis, que caminhava
                  ao lado de Huin. - Você tem sapato.
                        Aravis  nada  respondeu.  Estava  com  um  ar  superior.  E  infelizmente
                  esse ar superior era propositado.

                        A  trote,  a  passo,  rã-rã-rã  dos  couros,  tlim-tlim-tlim  dos  cabrestos,
                  cheiro de cavalo, cheiro de si mesmo, calor, ofuscamento, dor de cabeça -
                  eis  o  que  era,  e  sempre  a  mesma  coisa,  quilômetro  após  quilômetro.  E
                  Tashbaan sempre lá, no mesmo lugar, nunca mais longe, e as montanhas à
                  frente sempre no mesmo lugar, nunca mais perto. Não acabava mais, rã-rã-
                  rã, tlim-tlim-tlim, cheiro de cavalo, cheiro de gente.

                        Experimentaram todos os passatempos, mas o tempo não passava. E
                  era  preciso  fazer  uma  força  monstruosa  para  não  ficar  pensando  em
                  refrescos gelados num palácio de Tashbaan, água clara batendo na pedra,
                  leite fresco e cremoso, mas não cremoso demais... E, por mais que a gente
                  não queira pensar, mais a gente pensa.
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