Page 247 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Isto é assunto para os sábios. - falou o Tisroc. - Jamais poderei
acreditar que uma tal mudança possa ser feita sem a intervenção de
poderosa magia. Tantas coisas ali sucedem, que a terra é principalmente
habitada por demônios na forma de bichos que falam como homens e de
monstros que são metade homem e metade animal. É geralmente aceito que
o Grande Rei de Nárnia -que os deuses o amaldiçoem! - é sustentado por
um demônio de aspecto hediondo e de imbatível poder maléfico, que
aparece sob a forma de um leão. Daí ser o ataque a Nárnia uma empresa
duvidosa. Estou decidido a não meter a mão em saco de onde não possa
retirá-la.
- Venturosos os calormanos - disse o vizir, revirando mais uma vez a
cabeça -, em cujo chefe os deuses houveram por bem derramar a prudência
e a circunspecção! Como diz o sábio e irrefutável Tisroc, seria penoso
meter as mãos em um saco tão opulento quanto Nárnia. Divino foi o poeta
que disse...
A esta altura Achosta percebeu um movimento impaciente do pé do
príncipe e calou-se.
- É muito penoso - concordou o Tisroc na sua voz profunda e mansa. -
O sol é escuro aos meus olhos, e à noite meu sono é menos reparador, por
lembrar-me que Nárnia é ainda uma terra livre.
- Pai meu - disse Rabadash -, e se lhe mostrasse uma maneira pela
qual poderia estender a sua mão para agarrar Nárnia, podendo retirá-la
incólume, caso fracassasse a tentativa?
- Caso me mostre isso, Rabadash, será o melhor dos filhos.
- Escute, pois, meu pai. Nesta mesma noite, conduzirei apenas
duzentos cavalos e homens pelo deserto. Parecerá a todos que o senhor
nada sabe de minha expedição. Na segunda manhã estarei nos portões do
castelo do rei Luna, na Arquelândia, em Anvar. Estão em paz conosco e
desprevenidos: tomarei Anvar antes que se mexam. Depois cavalgarei pelo
desfiladeiro do alto de Anvar, seguindo por Nárnia até Cair Paravel. O
Grande Rei não se encontra lá; quando o deixei, prepara
va uma expedição contra os gigantes da fronteira do norte. Entrarei
facilmente em Cair Paravel. Serei cauteloso, cortês e mesureiro como um
narniano. E depois, então? É esperar sentado até a chegada do Esplendor
Hialino, com a rainha Susana a bordo, agarrar o meu passarinho fujão
assim que ele pousar, colocá-lo na sela e cavalgar, cavalgar até Anvar.
- Mas não é provável, filho meu, que, ao arrebatar a mulher, um dos
dois, você ou o rei Edmundo, perca a vida?
- São poucos: dez dos meus homens podem desarmá-lo e amarrá-lo.
Sofrearei minha veemente sede de sangue para que não prevaleça um