Page 242 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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companhia  de  Shasta  era  bem  mais  divertida  do  que  a  vida  elegante  em
                  Tashbaan. Apenas respondeu:

                        -  Você  se  esquece  de  uma  coisa:  eu  também  não  serei  ninguém,
                  chegando a Nárnia. E, além do mais, prometi.

                        Lasaralina, quase chorando, replicou:

                        - E pensar que, se você tivesse juízo, seria a esposa de um grão-vizir!
                        Aravis saiu para uma conversa particular com os cavalos.

                        - Podem ir com o escudeiro antes do pôr-do-sol. Não precisam mais
                  daqueles  sacos.  Irão  de  sela  e  rédea.  Mas  levarão  comida  e  água  nos
                  alforjes. O homem recebeu ordens para que vocês matem a sede do outro
                  lado da ponte.

                        - Para Nárnia! Para o Norte! - murmurou Bri. - Mas... e se Shasta não
                  estiver lá nos túmulos?

                        - Esperem por ele, é claro. Passaram bem a noite?
                        - Nunca estive num estábulo melhor na minha vida - respondeu Bri. -
                  Mas  tem  uma  coisa:  se  o  marido  daquela  sua  amiga  das  risadinhas  está

                  pagando  o  primeiro  escudeiro  para  comprar  aveia  de  primeira,  tenho  a
                  impressão de que ele anda enganando o patrão.
                        Aravis  e  Lasaralina  cearam  na  Sala  das  Colunas.  Duas  horas  mais
                  tarde, estavam prontas para partir. Aravis vestiu-se como uma escrava de
                  estimação  de  uma  casa  importante,  cobrindo  o  rosto  com  um  véu.  Se
                  houvesse  perguntas,  Lasaralina  responderia  que  estava  levando  uma
                  escrava de presente para uma das princesas.

                        Saíram  com  todo  o  cuidado,  e  poucos  minutos  depois  estavam  às
                  portas do palácio. O oficial da guarda conhecia Lasaralina; os soldados, a
                  seu mando, prestaram-lhe continência. Passaram à Sala de Mármore Negro.
                  Serviçais e escravos andavam de um lado para outro, e isso facilitava mais
                  as coisas. Da Sala das Colunas passaram à Sala das Estátuas e, depois da
                  colunata,  cruzaram  os  grandes  portões  de  cobre  trabalhado  das  salas  do
                  trono.  Era  de  um  luxo  indescritível  tudo  o  que  se  podia  ver  sob  a  luz
                  mortiça do lampadário.

                        Chegaram  por  fim  ao  jardim,  que  descia  até  o  rio  em  numerosos
                  terraços. No fim erguia-se o Velho Palácio, escurecido pelo tempo. Já era
                  quase noite, e as duas passaram por um labirinto de corredores iluminados
                  apenas  por  alguns  tocheiros  fixados  nas  paredes.  Lasaralina  parou  num
                  lugar onde se podia ir para a esquerda ou para a direita.

                        - Vamos,  vamos  -  murmurou  Aravis,  com  o  coração  batendo
                  acelerado, ainda com a impressão de que o pai podia aparecer a qualquer
                  momento.
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