Page 238 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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ARAVIS EM TASHBANN
Acontecera o seguinte: depois que Shasta foi levado pelos narnianos,
Aravis se viu só, com os dois cavalos que, sabiamente, não disseram uma
palavra. Mesmo assim, nem por um segundo perdeu o sangue-frio, embora
o seu coração batesse descompassadamente. Tentou ir embora, mas outro
arauto vinha gritando: “Abram caminho! Caminho para a tarcaína
Lasaralina!” Seguiam o arauto quatro escravos armados e logo atrás quatro
homens, que carregavam uma liteira a esvoaçar com suas cortinas de seda e
a tilintar com seus sininhos de prata, perfumando a rua com essências e
aromas de flores. Atrás da liteira, escravas com lindos vestidos, pajens,
escudeiros e o resto do cortejo. Foi aí que Aravis cometeu o seu primeiro
erro.
Conhecia Lasaralina muito bem, quase como se tivessem sido colegas
de escola, pois haviam freqüentado as mesmas casas e as mesmas festas.
Aravis não resistiu à curiosidade de saber como estava a amiga, agora que
se casara e se tornara de fato muito importante. Aproximou-se.
Fatal: os olhares das duas jovens se encontraram. Lasaralina ergueu-se
de seus coxins e gritou a plenos pulmões:
- Aravis! Que anda fazendo por aqui, menina? Seu pai...
Não havia um momento a perder. Sem pestanejar, Aravis largou os
cavalos, subiu na liteira e sussurrou com fúria ao ouvido de Lasaralina:
- Boca calada, sua doida! Caladinha! Ninguém pode saber... Diga a
seu pessoal...
- Mas, querida, que é isso... - ia falando Lasaralina, ainda em voz alta.
(Pouco lhe importava chamar a atenção, até pelo contrário.)
- Faça o que eu lhe digo ou nunca mais falo com você. Depressa, por
favor, Las: diga a seu pessoal para levar aqueles dois cavalos. Abaixe as
cortinas e me leve para um lugar onde não me achem. Depressa!
- Está bem, querida - disse Lasaralina com sua voz preguiçosa. -
Venham aqui dois escravos: levem os cavalos da tarcaína. E agora, para
casa! - ordenou a jovem. - Francamente, querida, acha que precisamos
mesmo seguir com as cortinas abaixadas? Num dia como este?
Mas Aravis já fechara as cortinas, encerrando-se com a amiga numa
espécie de tenda ambulante e perfumada.