Page 238 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 238

7


                                                          ARAVIS EM TASHBANN






                        Acontecera o seguinte: depois que Shasta foi levado pelos narnianos,
                  Aravis se viu só, com os dois cavalos que, sabiamente, não disseram uma
                  palavra. Mesmo assim, nem por um segundo perdeu o sangue-frio, embora
                  o seu coração batesse descompassadamente. Tentou ir embora, mas outro
                  arauto  vinha  gritando:  “Abram  caminho!  Caminho  para  a  tarcaína
                  Lasaralina!” Seguiam o arauto quatro escravos armados e logo atrás quatro
                  homens, que carregavam uma liteira a esvoaçar com suas cortinas de seda e
                  a  tilintar  com  seus  sininhos de prata,  perfumando  a  rua  com  essências e
                  aromas  de  flores.  Atrás  da  liteira,  escravas  com  lindos  vestidos,  pajens,
                  escudeiros e o resto do cortejo. Foi aí que Aravis cometeu o seu primeiro
                  erro.

                        Conhecia Lasaralina muito bem, quase como se tivessem sido colegas
                  de escola, pois haviam freqüentado as mesmas casas e as mesmas festas.
                  Aravis não resistiu à curiosidade de saber como estava a amiga, agora que
                  se casara e se tornara de fato muito importante. Aproximou-se.

                        Fatal: os olhares das duas jovens se encontraram. Lasaralina ergueu-se
                  de seus coxins e gritou a plenos pulmões:

                        - Aravis! Que anda fazendo por aqui, menina? Seu pai...
                        Não  havia um  momento  a  perder.  Sem  pestanejar,  Aravis largou os
                  cavalos, subiu na liteira e sussurrou com fúria ao ouvido de Lasaralina:

                        - Boca  calada,  sua  doida!  Caladinha!  Ninguém  pode  saber...  Diga  a
                  seu pessoal...

                        - Mas, querida, que é isso... - ia falando Lasaralina, ainda em voz alta.
                  (Pouco lhe importava chamar a atenção, até pelo contrário.)

                        - Faça o que eu lhe digo ou nunca mais falo com você. Depressa, por
                  favor, Las: diga a seu pessoal para levar aqueles dois cavalos. Abaixe as
                  cortinas e me leve para um lugar onde não me achem. Depressa!

                        - Está  bem,  querida  -  disse  Lasaralina  com  sua  voz  preguiçosa.  -
                  Venham aqui dois escravos: levem os cavalos da tarcaína. E agora, para
                  casa!  -  ordenou  a  jovem.  -  Francamente,  querida,  acha  que  precisamos
                  mesmo seguir com as cortinas abaixadas? Num dia como este?
                        Mas Aravis já fechara as cortinas, encerrando-se com a amiga numa
                  espécie de tenda ambulante e perfumada.
   233   234   235   236   237   238   239   240   241   242   243