Page 243 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Só estou pensando um pouco... Não tenho muita certeza se é para cá
ou para lá... Acho que é para lá. É, tenho quase certeza. Que engraçado
tudo isso aqui!
Pegaram à esquerda, atravessaram uma passagem quase escura de
todo, chegaram a uma descida feita em degraus.
- Está certo - disse Lasaralina. - Lembro-me destes degraus.
Nesse momento uma luz oscilou lá na frente. Um segundo após, num
canto distante, surgiram os vultos de dois homens que caminhavam de
costas empunhando grandes velas. Só diante de realezas é que aparecem
pessoas andando de costas. Aravis sentiu Lasaralina agarrando-lhe o braço
quase como se fosse um beliscão, aquele beliscão que significa o seguinte:
estou morrendo de medo. Achou estranho que Lasaralina sentisse tanto
pavor do Tisroc, tão amigo, tão bom. Mas não havia muito tempo para
pensar. Lasaralina já a empurrava para trás, degraus acima, na ponta dos
pés, roçando pelas paredes.
- Uma porta; entre depressa!
Fecharam de novo a porta com todo o cuidado. Escuro total. Pela
respiração, podia-se perceber que Lasaralina estava aterrorizada.
- Que Tash nos proteja! Que vamos fazer, Aravis, se ele entrar aqui?
Pisando um tapete fofo, saíram tateando e tropeçaram num sofá.
- Vamos nos esconder aqui atrás - murmurou Lasaralina. - Ó, que
idéia idiota ter vindo aqui!
As duas moças agacharam-se no diminuto espaço entre o sofá e a
parede acortinada.
Lasaralina deu um jeito de arranjar a melhor posição, ficando
completamente escondida. A parte superior do rosto de Aravis aparecia do
lado do sofá; seria vista se alguém projetasse uma luz naquela direção.
Talvez, se isso acontecesse, o véu ajudasse a disfarçar que se tratava de um
rosto humano. Tentou obter algum espaço de Lasaralina, que, mais egoísta
no seu terror, resistiu e beliscou-lhe os pés. Desistiram e ficaram quietas,
arquejando um pouco. Faziam muito ruído ao respirar, mas não havia
nenhum outro barulho.
- Estamos salvas? - perguntou Aravis, no mais baixo dos mais baixos
suspiros.
- Acho... acho que sim... mas, ó, meus nervos estão...
O barulho que então ouviram não poderia ser mais aterrador: uma
porta se abriu. Depois, a luz. Como Aravis não podia esconder a cabeça
atrás do sofá, viu tudo.