Page 246 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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pois, e diga-nos o que deseja e propõe.

                        - Desejo e proponho, pai meu, que o senhor convoque imediatamente
                  seu  invencível  exército  a  fim  de  invadir  a  três  vezes  maldita  terra  de
                  Nárnia,  para  arrasá-la  com  a  espada  e  o  fogo,  anexando-a  ao  nosso
                  ilimitado império, matando o Grande Rei e todos os de seu sangue, com
                  exceção da rainha Susana. Pois a esta eu quero por mulher, quando ela tiver
                  aprendido sua lição.

                        -  Compreenda,  filho  meu,  que nenhuma  das palavras  que proferisse
                  poderá levar-me a uma guerra aberta com Nárnia.

                        - Não fosse o senhor o meu pai, ó sempiterno Tisroc - disse o príncipe
                  rangendo os dentes -, diria que são palavras de um covarde.
                        - E não fosse você meu filho, ó fogoso Rabadash, sua vida agora seria
                  curta e demorado o seu fim.

                        A voz plácida e fria com que disse essas palavras gelou o sangue de
                  Aravis.

                        - Mas, pai meu - replicou o príncipe, num tom bem mais respeitoso -,
                  por que pensar duas vezes em punir Nárnia? É como se enforcássemos um
                  escravo  preguiçoso  ou  déssemos  um  cavalo  velho  para  os  cachorros
                  comerem.  Nárnia  não  chega  a  ser  a  quarta  parte  da  menor  de  suas
                  províncias. Mil lanças podem subjugá-la em cinco semanas. Não passa de
                  uma nódoa aos pés do seu império.

                        - Sem dúvida - falou Tisroc. - Esses pequenos países bárbaros que se
                  proclamam livres (vale dizer, indolentes, caóticos, inúteis) são odiosos aos
                  deuses e a todas as pessoas de discernimento.

                        - Assim sendo, por que haveremos de sofrer a afronta de uma Nárnia
                  insubmissa? - prosseguiu o príncipe.
                        - Saiba, ó sábio príncipe - interveio o grão-vizir -, que, até o ano em
                  que o seu altivo pai começou o seu salutar e sempiterno reinado, a terra de
                  Nárnia  vivia  coberta  de  neve  e  gelo  e  era  governada  por  uma  poderosa
                  feiticeira.

                        - Sei de tudo isso muito bem, ó loquaz vizir - replicou o príncipe. -
                  Mas também sei que a feiticeira morreu. E que o gelo e a neve derreteram.
                  E que Nárnia agora é um país frutífero.

                        - E  essa  mudança,  cultíssimo  príncipe,  sem  sombra  de  dúvida,  é
                  devida aos encantamentos dessas criaturas perversas que agora se intitulam
                  reis e rainhas de Nárnia.

                        - Sou de opinião - disse Rabadash - que isso aconteceu pela força das
                  causas naturais.
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