Page 233 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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SHASTA NAS TUMBAS
Shasta correu ligeiro pelo telhado, na ponta dos pés. Estava descalço e
seus pés queimavam. Em alguns segundos chegou ao muro, escalou-o e
andou até o fim dele. Olhou para baixo e viu
uma ruazinha estreita e malcheirosa. Lá havia, de fato, um monte de
lixo, exatamente conforme Corin havia dito. Antes de pular no monte de
lixo Shasta deu uma olhada ao redor. Pela aparência, devia estar no alto da
ilha-colina de Tashbaan. À sua frente, era um declive depois do outro,
telhados abaixo de telhados, descendo na direção das torres e construções
do muro norte da cidade. Além, o rio, e além do rio uma encosta cheia de
jardins. Mais adiante estendia-se algo desconhecido: uma coisa cinza-
amarela-da, plana como o mar calmo, prolongando-se por quilômetros. Ao
longo erguiam-se enormes coisas azuladas, maciças, mas de recortes
denteados, algumas com topos brancos. “O deserto! As montanhas!” - disse
Shasta consigo mesmo.
Pulou no monte de lixo e começou a correr pela colina, chegando a
uma rua mais larga. Ninguém se dava ao trabalho de olhar para um menino
esfarrapado e de pés descalços. Mas continuou aflito até dobrar uma
esquina e dar com o portão da cidade. Empurrado pela multidão que
também saía, chegou à ponte, onde o povo caminhava num silêncio surdo,
como se estivesse em fila. Com a água correndo dos dois lados, aquilo era
uma delícia, depois do odor e do calor de Tashbaan.
Ao chegar ao fim da ponte, a multidão se desfazia, para a esquerda e
para a direita das margens do rio. O menino seguiu em frente por uma
estrada pouco percorrida, ladeada de jardins. Mais alguns passos e achou-se
só, chegando daí a pouco no alto da elevação. Parou e olhou. Era como se
tivesse chegado ao fim do mundo: ali começava o areai, uma grossa
camada de areia, ainda mais áspera do que a da praia. As montanhas,
parecendo mais distantes do que antes, assomavam à frente. Para seu alivio,
depois de cinco minutos de marcha, viu à esquerda as tumbas, como Bri as
descrevera: grandes blocos de pedra com o formato de gigantescas
colméias alongadas. O sol se punha atrás delas.
De frente para o sol, que o impedia de ver qualquer coisa, Shasta
mesmo assim seguia de olhos fixos, buscando um indício dos amigos.
“Devem estar atrás do túmulo mais distante, e não do lado de cá, para não
serem vistos da cidade.”