Page 229 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 229

- Nariz para o norte - gritou o primeiro anão.

                        - A caminho de Nárnia! - disse o outro.

                        -  E  imaginem  só  o  príncipe  ao  acordar  e  ver  que  os  passarinhos
                  fugiram! - exclamou Peridan, batendo palmas.

                        A  rainha,  emocionada,  pegou  as  mãos  do  fauno,  que  começara  a
                  dançar:
                        - Ó Mestre Tumnus, meu querido, você salvou a vida de todos nós!

                        - O príncipe nos perseguirá - falou outro cavalheiro, cujo nome Shasta
                  não ouvira.

                        - Isso  pouco  me  assusta  -  replicou  Edmundo.  -  Vi  os  navios  que
                  possuem:  nem  grandes,  nem  rápidos.  Até  gostaria  que  nos  seguissem.  O
                  Esplendor Hialino pode pôr a pique tudo o que o príncipe mandar em nosso
                  encalço...

                        Se é que conseguiriam alcançar-nos. Disse o corvo:
                        - Majestade, seria impossível ouvir melhor plano do que esse, mesmo
                  que ficássemos reunidos durante uma semana. E agora, como dizemos nós,

                  as  aves,  primeiro os  ninhos, depois os  ovos.  Quer  dizer,  vamos  comer  e
                  depois tratar dos nossos interesses.
                        As portas foram abertas e, com os nobres e as criaturas postados de
                  cada lado, o rei e a rainha saíram. Shasta matutava no que faria, quando o
                  Sr. Tumnus lhe disse:

                        - Fique aí deitado, Alteza, que lhe trarei um banquetezinho em alguns
                  instantes. Não precisa se incomodar até a hora do embarque.

                        Jogando a cabeça de novo contra as almofadas, Shasta ficou pensando
                  na encrenca em que se metera. Jamais lhe ocorria contar para os narnianos
                  a  verdade  toda  e  pedir  auxílio.  Tendo  sido  criado  por  um  homem  duro,
                  enraizara-se  no  hábito  de  nunca  dizer  nada  espontaneamente  para  as
                  pessoas  adultas:  achava  que  estas  sempre  atrapalhavam  o  que  estava
                  desejando.  E  pensava  que  mesmo  que  o  rei  de  Nárnia  tratasse  bem  os
                  cavalos, por serem cavalos falantes de Nárnia, teria ódio de Aravis, que era
                  uma  calormana;  poderia vendê-la  como  escrava ou  enviá-la de  volta  aos
                  pais.  Quanto  a  ele,  jamais  teria  agora  a  coragem  de  confessar-lhes  a
                  verdade: “Ouvi todos os planos. Se soubessem que não sou um deles, não
                  me deixariam sair vivo desta casa. Teriam medo da minha traição. É claro
                  que  me  matariam.  E  é  o  que  vai  acontecer  se  o  verdadeiro  Corin
                  reaparecer.”  Shasta  ignorava  como  as  pessoas  nobres  e  livres  procedem.
                  “Que vou fazer?” E percebeu que o homenzinho-bode vinha de volta.
   224   225   226   227   228   229   230   231   232   233   234