Page 227 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Majestade - falou Peridan para o rei -, não serão loucos a esse ponto.
                  Ignoram por acaso que há espadas e lanças em Nárnia?

                        Respondeu Edmundo:

                        - Minha  impressão  é  que  o  Tisroc  não  tem  muito  medo  de  Nárnia.
                  Somos  um  país  pequeno,  e  os  países  pequenos  fronteiriços  a  um  grande
                  império sempre foram odiados pelo grande império, que anseia por arrasá-
                  los, por tragá-los. Ao permitir que o príncipe fosse a Cair Paravel como
                  pretendente de minha irmã, talvez só estivesse buscando uma ocasião para
                  abocanhar Nárnia e Arquelândia de uma só vez.

                        - Que  tente  fazer  isso  -  falou  o  segundo  anão.  -  No  mar  somos  tão
                  fortes quanto ele. E, se nos atacar por terra, terá de atravessar o deserto.
                        - É verdade, meus amigos - respondeu Edmundo. - Mas será mesmo o
                  deserto uma proteção segura? Qual a opinião de Pisamanso?

                        - Conheço  bem  o  deserto  -  disse  o  corvo.  -  Voei  muito  por  lá  na
                  mocidade.  (Sbasta  apurou  os  ouvidos,  é  claro.)  Uma  coisa  é  certa:  se  o
                  Tisroc  for  pelo  grande  oásis,  jamais  poderá  levar  um  exército  até
                  Arquelândia. Pois, ainda que pudessem atingir o oásis num dia de marcha,
                  a  água  não  daria  para  matar  a  sede  de  todos  os  soldados  e  de  todos  os
                  animais. Mas há um outro caminho. (Shasta prestou mais atenção.) Para
                  chegar a ele é preciso tomar como ponto de partida as Tumbas dos Antigos
                  Reis e seguir no rumo noroeste, mantendo sempre em linha reta o cume
                  duplo do Monte Piro. Sendo assim, num dia a cavalo ou um pouco mais,
                  pode-se atingir a garganta de um vale de pedra; ela é tão estreita que se
                  pode passar lá por perto mil vezes sem se perceber que a garganta e o vale
                  existem. Não se vê relva ou água ou qualquer coisa de bom. Mas se alguém
                  entrar pela garganta e caminhar pelo vale chegará a um rio e, através deste,
                  poderá cavalgar até Arquelândia.

                        - E os calormanos conhecem este caminho? - perguntou a rainha.

                        O rei interveio:

                        - Meus  amigos,  por  favor,  de  que  adianta  tudo  isso?  Não  estamos
                  querendo saber se os calormanos ganhariam ou não uma guerra conosco.
                  Nosso problema é saber como salvar a honra da rainha e as nossas vidas,
                  saindo desta diabólica cidade. Ainda que meu irmão, o Grande Rei Pedro,
                  derrotasse o Tisroc uma dúzia de vezes, muito antes disso nossos pescoços
                  já teriam sido cortados... E a rainha seria a mulher ou, mais acertadamente,
                  a escrava de Rabadash.
                        - Temos as nossas armas - disse o primeiro anão.

                        - Sem      dúvida:       eles     teriam      de      passar      sobre      os
                  nossos cadáveres para chegar à rainha.
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