Page 223 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Onde andara? Como havia saído? Que fizera de seus trajes? Não sabia que
tinha procedido mal?
O menino nada respondeu, pois era impossível imaginar resposta que
não fosse perigosa.
- Não vai dizer nada? - perguntou o rei. - Francamente, príncipe, este
silêncio casa ainda pior com a sua nobreza do que a própria fuga. Vá lá que
um garoto travesso fuja, mas o filho de um rei da Arquelândia deveria
confessar a sua culpa, e não abaixar a cabeça como um escravo calormano.
Shasta sentia o tempo todo (o que tornava tudo ainda mais
desagradável) que o jovem rei era uma excelente pessoa, a quem gostaria
de causar uma boa impressão.
Os estranhos o levaram, de mãos bem firmes, por uma rua estreita,
desceram por uma escadaria e entraram por um portal largo com dois
ciprestes escuros. Shasta se viu num pátio que também era um jardim. Uma
fonte jorrava num tanque. Laranjeiras erguiam-se da relva, e os quatro
muros brancos que cercavam o pátio estavam alastrados de rosas
trepadeiras. O tumulto da rua subitamente tornara-se distante.
Atravessaram rapidamente o pátio, cruzaram um portão escuro, passando a
um corredor calçado de pedras, que lhe refrescavam os pés, e subiram uma
escadaria. Um instante depois, Shasta achava-se piscando os olhos numa
grande sala de janelas abertas, todas dando para o norte. Nunca vira cores
mais maravilhosas que as do tapete que se estendia sob seus pés; sentia
como se afundasse em musgo espesso. divãs com lindas almofadas
alongavam-se pelas paredes: a sala parecia cheia de gente; “algumas muito
esquisitas”, pensou Shasta. Mal teve tempo de pensar nelas, pois a mais
linda moça do mundo levantou-se e correu a abraçá-lo e beijá-lo,
exclamando:
- Mas Corin, Corin, como pôde fazer uma coisa dessas? Desde que a
sua mãe morreu, somos tão amigos, Corin! O que iria dizer ao seu real pai
se voltasse sem você? Poderia até haver uma guerra, apesar da velha
amizade entre Arquelândia e Nárnia. Admita, meu amigo, que foi muito
levado.
Shasta disse para si mesmo: “Pelo jeito, estou sendo confundido com
um príncipe da Arquelândia. Estes aí devem ser os narnianos. Mas onde
andará o verdadeiro Corin?”
Faltava-lhe coragem para dizer qualquer coisa em voz alta!
- Onde andou, Corin? - as mãos da moça continuavam nos seus
ombros.
- Eu... eu não sei...