Page 220 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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reluzindo ao sol. À direita vislumbraram mastros de navios. Vários outros
viajores
caminhavam pela ponte, quase todos camponeses, conduzindo burros
e mulas ou carregando cestos na cabeça. As crianças e os cavalos
misturaram-se à multidão.
- Algum problema? - murmurou Shasta para Aravis, que tinha uma
expressão estranha.
- Nenhum para você - resmungou Aravis. - O que você tem a ver com
Tashbaan? Nada! Mas eu devia estar em cima de uma liteira, com soldados
na frente e escravos atrás, talvez indo para uma grande festa no palácio do
Tisroc - que ele viva para sempre! -, e não me escondendo como um rato.
Para você é diferente.
Shasta achou isso tudo uma grande bobagem.
No extremo da ponte erguiam-se as muralhas da cidade, e os portões
de bronze estavam abertos; as alamedas eram largas, mas pareciam estreitas
lá no alto. Seis soldados, empunhando lanças, permaneciam de cada lado.
Aravis não podia evitar um pensamento: “Se soubessem de quem sou filha,
fariam continência para mim.” Os outros, porém, só pensavam em
conseguir passar sem chamar a atenção dos soldados. E, por sorte, estes
nada perguntaram. Mas um deles tirou uma cenoura do cesto de um
camponês e jogou-a em Shasta, com uma risada:
- Ei, garotão! Você vai ver se o seu patrão descobre que o cavalo de
sela dele virou cavalo de carga!
Isso não era nada bom: mostrava que Bri, aos olhos de qualquer
entendido, só podia ser um cavalo de guerra.
- Pois são ordens do patrão! - respondeu Shasta. Teria sido melhor
ficar de boca fechada, pois o soldado deu-lhe um tapa que quase o derrubou
ao chão:
- Tome, seu porcaria, para aprender a falar com um homem livre.
Conseguiram entrar na cidade sem ser impedidos. Shasta pouco
choramingou, já bastante acostumado a pancadas.
Cruzados os portões, Tashbaan não pareceu a princípio tão
deslumbrante. A primeira rua era bem estreita, com poucas janelas de um
lado e do outro. Tinha muito mais movimento do que Shasta poderia
imaginar: camponeses que se dirigiam à feira, vendedores de água,
vendedores de carne, carregadores, mendigos, soldados, crianças
esfarrapadas, galinhas, cães vadios e escravos descalços. A primeira coisa
que se notava era o mau cheiro, vindo de gente pouco limpa, de cachorros