Page 219 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                  SHASTA ENCONTRA OS NARNIANOS






                        A princípio Shasta só distinguiu no vale um vasto mar de névoa, com
                  algumas  cúpulas  e  pináculos  erguendo-se  a  partir  dele;  à  medida  que
                  clareava o dia e ia sumindo a névoa, pôde ver melhor. Um rio largo dividia-
                  se em dois braços: na ilha entre eles ficava a cidade de Tashbaan, uma das
                  maravilhas  do  mundo.  Ao  redor  da  ilha,  erguiam-se  altas  muralhas,
                  encimadas por tantas torres que Shasta logo desistiu de contá-las. Dentro
                  das  muralhas,  a  ilha  erguia-se  em  uma  colina,  e  por  toda  parte,  desde  o
                  palácio  do  Tisroc  até  o  grande  templo  de  Tash,  no  alto,  elevavam-se
                  edifícios,  terraços  e  mais  terraços,  ruas  e  ruas,  estradas  que
                  ziguezagueavam,  jardins  suspensos,  balcões,  arcadas,  ameias,  minaretes,
                  pináculos. Quando finalmente o sol nasceu no mar e a cúpula de prata do
                  templo refletiu a luminosidade, Shasta ficou meio ofuscado.

                        - Em frente - repetia Bri.

                        As  margens  do  rio  eram  a  tal  ponto  cheias  de  jardins  que  mais
                  pareciam  florestas,  até  que,  ao  se  aproximar,  distinguiam-se  entre  as
                  árvores as paredes de numerosas casas. Shasta sentiu um delicioso perfume
                  de  flores  e  frutos.  Um  quarto  de  hora  mais  tarde,  pisavam  uma  estrada
                  margeada de muros e árvores.

                        - Estou achando este lugar maravilhoso! - disse Shasta com assombro.
                        - Não se pode negar - disse Bri -, mas preferia que a gente já estivesse
                  do outro lado da cidade.

                        Neste momento ouviu-se um ruído grave e late-jante, que aos poucos
                  tornou-se  mais  e  mais  agudo,  dando  a  impressão  de  que  todo  o  vale
                  vibrava. Era barulho de música, mas tão forte e solene que chegava a dar
                  um pouco de medo.

                        - São  trombetas  ordenando  que  se  abram  os  portões  da  cidade  -
                  explicou Bri. - Mais um instante e estaremos lá. Atenção, Aravis, curve um
                  pouco os ombros e pise com mais força; esconda o máximo a sua princesa.
                  Procure imaginar que passou a vida recebendo chutes e feios insultos.

                        - Se  é  assim  -  respondeu  Aravis  -,  que  tal  se  também  curvasse  um
                  pouquinho mais a cabeça e o pescoço? Esconda o seu cavalo de guerra.

                        - Bico calado - disse Bri. - É agora. Haviam chegado à beira do rio e o
                  caminho à frente entrava por uma ponte cheia de arcos. A água dançava,
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