Page 217 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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melhor  seria  atravessar  a  cidade  de  porta  a  porta,  pois  é  mais  fácil
                  passar  sem  ser  notado  na  multidão.  Mas  aprovava  também  a  idéia  do
                  disfarce.

                        - Os dois humanos devem vestir-se de trapos, como camponeses ou
                  escravos. A armadura de Aravis e as selas devem ser metidas em trouxas e
                  colocadas  em  cima  de  nós;  assim  todos  pensarão  que  somos  animais  de
                  carga.

                        - Minha  boa  Huin!  -  interveio  Aravis,  quase  com  desprezo.  -  Você
                  acha  que  alguém  tomaria  Bri  por  um  animal  de  carga?  Não  há  disfarce
                  possível, minha querida!

                        - Creio que sou da mesma opinião - disse Bri, fungando e repuxando a
                  orelha um pouquinho para trás.
                        - É, sei que o meu plano não é tão bom assim - concordou Huin -, mas
                  acredito que seja a nossa chance. Quanto a nós, eqüinos, já faz tanto tempo
                  que não recebemos cuidados, que nem parecemos ser de tão alta linhagem;
                  eu, pelo menos, sei que não. Se a gente se lambuzasse de lama e entrasse na
                  cidade de cabeça baixa, quase sem levantar os cascos, talvez não fôssemos
                  notados.  Também  nossas  caudas  têm  de  ser  cortadas  mais  curtas:  não
                  certinhas, entendem, mas tudo esfiapado...

                        - Minha  boa  senhora  -  disse  Bri  -,  já  imaginou  como  seria
                  desagradável chegar a Nárnia nessas condições?

                        - Bem - respondeu Huin com humildade (era uma égua muito sensata)
                  -, o importante mesmo é chegar a Nárnia.

                        Apesar dos pesares, o plano de Huin acabou sendo adotado. Envolvia
                  certos riscos. Uma fazenda ficou sem alguns sacos de linhagem; outra, sem
                  um  rolo  de  corda.  Os  andrajos  masculinos  de  Aravis  tiveram  de  ser
                  comprados  numa  vila.  Shasta  os  trouxe  em  triunfo  no  fim  da  tarde,
                  enquanto os outros o aguardavam na mata de uma serra - a última, pois na
                  outra vertente começava a descida para Tashbaan.

                        À  noite  galgaram  a  serra  por  uma  trilha  aberta  na  mata  por  algum
                  lenhador. Do alto viram milhares de luzes lá no vale. Shasta assustou-se,
                  pois não tinha a menor noção do que fosse uma grande cidade. Comeram
                  alguma coisa e depois dormiram. Na manhã seguinte, bem cedinho, foram
                  acordados  pelos  cavalos.  Ainda  luziam  algumas  estrelas,  e  o  ar  estava
                  úmido e frio. Aravis deu um pulo até a mata e voltou de lá muito engraçada
                  em  seus  andrajos,  trazendo  as  outras  roupas  numa  trouxa.  Esta,  mais  a
                  armadura, o escudo, a cimitarra, as selas e outros objetos foram colocados
                  dentro dos sacos. Bri e Huin já estavam  tão sujos e desalinhados quanto
                  possível;  faltava  apenas  encurtar  as  caudas.  A  cimitarra  era  o  único
                  instrumento disponível. Não foi fácil e doeu um bocado.
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