Page 216 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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agora  quase  a  noite  toda  e  escondiam-se  durante  o  dia.  Sempre  que
                  paravam,  falavam  e  discutiam  sobre  o  que  deveriam  fazer  ao  chegar  a
                  Tashbaan.  Tinham  adiado  o  problema,  mas  agora  não  tinha  mais  jeito.
                  Durante as discussões, Aravis foi ficando um pouquinho, só um pouquinho,
                  mais amistosa com Shasta. Fazer planos em conjunto ajuda a melhorar as
                  nossas relações com outras pessoas.

                        Para Bri, o principal agora era marcar um lugar para se encontrarem,
                  caso, por azar, tivessem que se separar ao atravessar a cidade. O melhor
                  lugar,  a  seu  ver,  era  a  orla  do  deserto,  onde  se  erguiam  as  Tumbas  dos
                  Antigos Reis. Explicou:

                        -  As  tumbas  são  pedras  enormes,  parecendo  colméias  gigantescas;
                  ninguém pode se enganar. E o melhor de tudo é que os calormanos não se
                  aproximam do lugar, temendo os morcegos vampiros.

                        Aravis  queria  saber  se  de  fato  os  vampiros  existiam  ou  não.  Bri
                  respondeu  que,  sendo  um  narniano  autêntico,  não  acreditava  nessas
                  baboseiras. Shasta afiançou que também ele não era um calormano e, por
                  isso,  não  dava  a  mínima  para  tais  lendas  de  vampiros.  Não  era  bem
                  verdade.  Mas  Aravis  ficou  bastante  impressionada  com  isso  (um  pouco
                  chateada  também)  e  afirmou  que  pouco  se  importava  com  os  morcegos,
                  fossem quantos fossem.
                        Assim ficou decidido que as tumbas serviriam de lugar de encontro,
                  do lado de lá de Tashbaan. Todos já achavam que estava tudo muito bem
                  quando  Huin,  humildemente, sugeriu  que  o problema  verdadeiro não  era
                  saber aonde iriam depois de passar por Tashbaan, mas como passariam por
                  Tashbaan.

                        -  Vamos  deixar isto para  amanhã,  madame  -  falou  Bri.  -  É hora de
                  dormir um pouco.

                        Mas não foi fácil decidir. Aravis sugeriu inicialmente que cruzassem o
                  rio a nado durante a noite, sem entrar na cidade. Bri tinha dois argumentos
                  contra  isso.  Primeiro:  o  rio  era  largo  demais  para  Huin  cruzá-lo  a  nado,
                  especialmente  carregando  uma  pessoa.  (Achava  que  era  largo  demais
                  também  para  ele,  mas  sobre  isto  fez  ligeiras  referências.)  Segundo:  se
                  houvesse um navio passando e alguém os visse, estaria tudo perdido.

                        Shasta  opinou  que  cruzassem  o  rio  além  de  Tashbaan,  onde  talvez
                  fosse mais estreito. Bri teve de explicar que ali existiam parques e casas de
                  veraneio,  onde  moravam  tarcaãs  e  tarcaínas.  Não  poderia  haver  lugar
                  melhor se a intenção fosse entregar Aravis aos bandidos.

                        - Precisamos usar um disfarce - disse Shasta. Huin disse que, no seu
                  modesto entender, o
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