Page 215 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Deve  ter  sido  espancada  por  ter  dormido  até  tarde  -  disse  Aravis,
                  calmamente.  -  Tratava-se  de  uma  espiã  da  minha  madrasta.  Se  bateram
                  nela, ótimo.

                        - Muito bonito!

                        - Fique sabendo que nada do que fiz tinha por objetivo agradar a você
                  - falou Aravis.

                        - Mas há uma outra coisa que não entendo - replicou Shasta. - Você é
                  muito nova para casar! Deve ser mais ou menos da minha idade! Como é
                  que é essa história de casar?
                        Aravis não deu atenção, mas Bri interveio:

                        - Shasta, não demonstre a sua ignorância. É na idade de Aravis que as
                  grandes famílias tarcaãs casam as moças.

                        Shasta ficou vermelhinho (mas ninguém notou, pois já estava bastante
                  escuro) e encabulou-se.

                        Aravis  pediu  a  Bri  que  contasse  a  sua  história.  Shasta  achou  que  o
                  cavalo exagerou um pouco no capítulo dos tombos e do cavaleiro aprendiz.
                  Bri  divertiu-se  com  isso,  mas  Aravis  permaneceu  séria.  E  foram  todos
                  dormir.

                        No dia seguinte prosseguiram a viagem. Shasta não estava satisfeito,
                  pois  agora  Bri  e  Aravis  é  que  trocavam  idéias  e  recordações.  Bri  havia
                  morado  por  muito  tempo  na  Calormânia  e  sempre  vivera  entre  tarcaãs  e
                  cavalos  de  tarcaãs,  conhecendo  muitas  pessoas  e  lugares  familiares  a
                  Aravis. Ela dizia o tempo todo coisas deste tipo: “Mas se você esteve na
                  Batalha  de  Zalindreh  deve  ter  visto  o  meu  primo  Alimash.”  E  Bri
                  respondia:  “É  claro,  Alimash;  mas  Alimash  era  apenas  comandante  das
                  carruagens,  entende,  e  eu  não  tinha  muita  relação  com  cavalos  de
                  carruagem. Cavalaria é outra coisa! Mas era um nobre cavaleiro. Encheu a
                  minha sacola de açúcar depois da tomada de Tisbé.” Ou Bri dizia: “Passei
                  aquele verão no lago de Bambulina.” E Aravis: “Ó, Bambulina! Tenho uma
                  amiga lá, Lasaralina Tarcaína. Que beleza de lugar! Aqueles jardins! E o
                  Vale dos Mil Perfumes!”
                        Bri não tinha o propósito de deixar Shasta de fora, mas este às vezes
                  chegava a pensar isso. Pessoas que conhecem muito as mesmas coisas são
                  quase incapazes de mudar de assunto, e quem não está por dentro se sente
                  deixado de lado.

                        Huin, meio tímida na presença de um grande cavalo guerreiro, pouco
                  falou. E Aravis não dirigiu a palavra a Shasta.

                        E já era hora de pensar em coisas mais importantes. Aproximaram-se
                  de Tashbaan. Surgiam vilas maiores e mais pessoas nas estradas. Viajavam
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