Page 221 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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sujos, de essências, alho, cebola, e de montes de lixo espalhados por todos
                  os lados.

                        Shasta  fingia  que  estava  abrindo  caminho,  mas  de  fato  era  Bri  que
                  dirigia os demais com ligeiros acenos de focinho. Começaram a subir uma
                  colina à esquerda; era muito mais fresco e agradável, com a rua arborizada
                  e casas somente do lado direito; do lado esquerdo, distinguiam os telhados
                  de  outras  casas  e  trechos  do  rio.  Fizeram  uma  voltinha  e  continuaram
                  subindo,  por  um  caminho  sinuoso,  em  direção  ao  centro  de  Tashbaan.
                  Imensas estátuas dos deuses e heróis dos calormanos -mais imponentes do
                  que simpáticas - erguiam-se nos pedestais reluzentes. Palmeiras e colunatas
                  faziam  sombra  no  calçamento  em  fogo.  Através  das  arcadas  de  muitos
                  palácios,  Shasta  reparou  nas  ramagens  verdes,  nas  fontes  frescas,  nos
                  relvados macios. Devia ser uma delícia lá dentro.

                        Difícil  era  a  caminhada  entre  a  multidão,  e  por  vezes  eram  até
                  obrigados  a  parar.  Isso  acontecia  quase  sempre  que  surgia  uma  voz
                  gritando: “Abram caminho! Caminho para o tarcaã!”, ou “Caminho para a
                  tarcaína”, ou “Caminho para o décimo quinto vizir”, ou “Caminho para o
                  embaixador”...  A  multidão  toda  se  espremia  de  encontro  aos  muros,
                  enquanto o grande senhor ou a grande dama seguia numa liteira carregada
                  por quatro  ou  até  seis gigantescos  escravos.  Pois  em  Tashbaan  só  existe
                  uma lei de trânsito: quem é menos importante tem de abrir caminho para
                  quem é mais importante. A punição para o infrator é uma boa chicotada ou
                  uma cacetada de cabo de lança.

                        Foi em uma rua magnífica, já pertinho do ponto mais alto da cidade (o
                  palácio  do  Tisroc  era  a  única  coisa  mais  alta),  que  aconteceu  a  mais
                  desastrosa dessas paradas no tráfego.
                        - “Caminho! Caminho!”, gritava a voz. “Caminho para o Bárbaro Rei

                  Branco, convidado do Tisroc - que ele viva para sempre! Caminho para os
                  senhores de Nárnia!”
                        Shasta tentou sair do caminho e fazer Bri recuar. Mas nenhum cavalo,
                  nem  mesmo  um  cavalo  de  Nárnia,  anda  com  facilidade  para  trás.  Uma
                  mulher empurrou uma cesta contras as costas de Shasta, dizendo:

                        - Pare de empurrar!

                        Outra  pessoa  também  o  empurrou  para  o  lado  e,  na  confusão,  ele
                  perdeu por um instante a companhia de Bri. Aí a multidão foi ficando tão
                  compacta  que  ele  mal  podia  se  mexer.  Involuntariamente,  viu-se  na
                  primeira fileira, com uma ótima visão do que ia acontecendo na rua.

                        Um único calormano vinha à frente, gritando: “Caminho! Caminho!”
                  Não havia liteira; vinham todos a pé, uma meia dúzia de homens. Shasta
                  nunca vira antes ninguém parecido com ele. Eram todos de pele branca, e a
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