Page 224 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 224
- Está vendo, Susana? - disse o rei. - Não arranquei dele uma única
palavra, de verdade ou de mentira.
Uma voz se fez ouvir:
- Rainha Susana! Rei Edmundo!
Shasta quase deu um pulo de espanto: quem tinha falado era uma
daquelas criaturas esquisitas que ele havia notado com o rabo do olho ao
entrar na sala. Era mais ou menos do tamanho do próprio Shasta. Da
cintura para cima parecia um homem, mas as pernas eram cabeludas como
pernas de bode, pareciam pernas de bode, com cascos de bode, e tinha
cauda, pele quase vermelha, cabelos cacheados, uma barbicha pontuda e
dois chifrinhos. Era na verdade um fauno, criatura da qual nunca ouvira
falar. Quem leu o livro O leão, a feiticeira e o guarda-roupa deve estar
informado de que se tratava do mesmo fauno, de nome Tumnus, que Lúcia,
irmã da rainha Susana, encontrara no seu primeiro dia em Nárnia. Estava
bem mais velho agora.
- Majestades - prosseguiu o fauno -, o pequeno príncipe sofreu
qualquer coisa com o sol. Vejam só: está ofuscado. Nem sabe onde se
encontra.
Pararam de ralhar e de fazer perguntas. Shasta foi levado para um
sofá, almofadas assentadas sob a sua cabeça, e trouxeram-lhe um refresco
gelado num copo de ouro. Disseram-lhe docemente que ficasse quietinho.
Nunca uma coisa assim tinha acontecido em sua vida. Nem chegara a
sonhar com um divã tão gostoso ou com uma bebida tão deliciosa como
aquele refresco. Ficou então imaginando o que teria acontecido aos outros e
como poderia escapar para encontrá-los nas tumbas, e o que aconteceria
quando o verdadeiro Corin reaparecesse. Estas aflições pareciam menores,
agora que se sentia tão bem. E talvez mais tarde ainda surgissem coisas
boas de comer!
Além do mais, o pessoal naquela sala era bem interessante. Além do
fauno havia dois anões (criaturas que ele nunca tinha visto) e um corvo
enorme. Os outros todos eram humanos, já crescidos, mas muito jovens,
todos eles, homens e mulheres, com voz e feições mais simpáticas que as
dos calormanos. Pouco depois já se sentia atraído pela conversa.
O rei falava para a rainha (a moça que beijara Shasta):
- Que me diz, Susana? Já faz três semanas que estamos nesta cidade.
Está decidida a casar-se com o príncipe Rabadash ou não?
A rainha sacudiu a cabeça:
- Não, meu irmão, nem por todas as jóias de Tashbaan.