Page 261 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 261

prepara  para  saltar  a  uma  árvore  quando  um  cachorro  estranho  entra  no
                  quintal. E se aproximava cada vez mais.

                        Ao  olhar  de  novo  para  a  frente,  outra  surpresa:  o  caminho  estava
                  impedido por um muro verde de uns três metros de altura. No centro do
                  muro havia um portão aberto. Bem no meio da entrada do portão estava um
                  homem alto, vestido com um manto alaranjado, apoiando-se numa bengala.
                  A barba quase lhe batia nos joelhos.

                        Shasta viu tudo de relance e virou-se novamente para trás. O leão já
                  roçava  com  as  garras  as  pernas  traseiras  de  Huin,  que  não  tinha  mais
                  esperança nos olhos esbugalhados.

                        - Vamos socorrer Huin - gritou Shasta na orelha de Bri.
                        Bri  mais  tarde  garantiu  não  ter  ouvido  nada,  ou  não  ter  entendido;
                  como foi, em geral, cavalo de palavra, devemos acatar o que disse.

                        Shasta  puxou  os  pés  dos  estribos,  virou  as  pernas  para  o  lado
                  esquerdo,  hesitou  durante  um  pavoroso  centésimo  de  segundo  e  pulou.
                  Doeu horrivelmente mas, antes de ter consciência disso, já ia cambaleando
                  para ajudar Aravis. Jamais tinha feito uma coisa dessas em toda a vida e
                  mal sabia por que estava fazendo isso naquele instante.

                        Um dos mais terríveis ruídos do mundo, um berro de cavalo, partiu
                  dos  beiços  de  Huin.  Aravis  debruçava-se sobre o  pescoço  dela,  tentando
                  puxar a espada. E já os três - Aravis, Huin e o leão - estavam quase em
                  cima de Shasta. O leão ergueu-se nas patas traseiras, imenso, e estendeu as
                  terríveis garras da pata direita para Aravis, que deu um grito e rodopiou
                  sobre  a  sela.  O  leão  atingiu  os  ombros  dela.  Transtornado  pelo  terror,
                  Shasta conseguiu aproximar-se da fera, sem um porrete, sem uma pedra na
                  mão.  Gritou,  bobamente,  como  se  o  leão  fosse  um  cachorro:  “Vai  para
                  casa! Já para casa!” Por uma fração de segundo viu-se cara a cara com o
                  leão, a um palmo da bocarra escancarada. Aí, para seu absoluto espanto, o
                  leão, ainda sobre as patas traseiras, refreando-se de súbito, virou-se e saiu
                  em disparada para trás.

                        Shasta correu para o portão do muro verde. Huin, tropeçando e quase
                  caindo, transpunha naquele instante o portão. Aravis ainda se mantinha na
                  montaria, com as costas banhadas de sangue.

                        - Entre, minha filha, entre - dizia o homem de longas barbas. - Entre,
                  meu filho. - E Shasta entrou ofegante.
                        O  portão  fechou-se  e  o  estranho  barbudo  já  ajudava  Aravis  a
                  desmontar.

                        Estavam num largo pátio circular, cercado por uma sebe alta. Também
                  via-se ali um tanque cheio de água absolutamente tranqüila. A árvore mais
   256   257   258   259   260   261   262   263   264   265   266