Page 266 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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UM VIAJOR SEM AS BOAS VINDAS
Quando Shasta transpôs o portão, viu à sua frente um declive coberto
de grama e de pequenas urzes, que ia dar numas árvores. Naquele momento
não conseguia pensar em nada, não dava para fazer planos: o importante
era correr. Às vezes tropeçava e por pouco não torceu o tornozelo nas
pedras soltas. As matas tornavam-se mais fechadas e o sol se fora, mas nem
por isso o calor diminuíra. Era um desses dias em que os mosquitos
parecem multiplicar-se. Cobriam a cara de Shasta, que nem se dava ao
trabalho de espantá-los.
Tataratatá!
O menino ouviu de repente um som alegre de trompas. Daí a pouco já
se achava numa grande clareira, no meio de uma multidão. Para ele, pelo
menos, pareceu uma multidão. Eram só quinze ou vinte cavalheiros em
trajes de caça, com suas montarias. No centro, alguém segurava o estribo
para que outro montasse. E este outro era um rei, o rei mais jovial, mais
gordinho, mais cara-de-maçã, mais pisca-pisca que se pode imaginar.
O rei desistiu logo de montar quando Shasta apareceu. Estendeu os
braços para o menino e o seu rosto se iluminou, ao gritar, com uma
profunda voz de baixo:
- Corin! Meu filho! Descalço... e em farrapos! O que...
- Príncipe Corin, não - disse Shasta ofegante. - Pareço... sei... com
ele... encontrei Sua Alteza em Tashbaan... manda lembranças...
O rei contemplava Shasta com uma expressão de extraordinário
espanto.
- É o rei Luna? - Não esperou resposta: - Senhor rei... vá voando para
Anvar... feche as portas da cidade... inimigos... Rabadash com duzentos
cavalos.
- Tem certeza disso, rapaz? - perguntou um outro cavalheiro.
- Vi com os meus próprios olhos. Vim correndo na frente desde
Tashbaan.
- A pé? - perguntou o cavalheiro, enrugando um pouco a testa.
- Cavalos... com o eremita - respondeu Shasta.