Page 262 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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bonita que Shasta vira na vida sombreava o tanque e, além deste, ficava
                  uma casinha de pedra coberta de folhas de palmeira. Ouviam-se balidos, e a
                  um canto vagavam umas cabras. O chão era recamado de relva.

                        - O senhor... o senhor... é o rei Luna de Arquelândia? - disse Shasta,
                  sem fôlego.

                        O velho fez que não:

                        - Sou o eremita. Não perca tempo com perguntas, meu filho. Obedeça.
                  Esta senhorita está ferida. Seus cavalos estão extenuados. Neste momento
                  Rabadash  está  encontrando  um  vau  no  Flecha  Sinuosa.  Se  correr  agora,
                  sem parar para descansar, chegará a tempo de advertir o rei Luna.
                        O coração de Shasta quase parou ao ouvir essas palavras, pois já não
                  lhe  restavam  reservas  de  força.  Por  dentro  rebelava-se  contra  o  que  lhe
                  parecia a crueldade da missão. Ainda não aprendera que a recompensa de
                  uma boa ação é geralmente ter de fazer uma outra boa ação, mais difícil e
                  melhor. Mas apenas perguntou:

                        - Onde está o rei?

                        O eremita apontou com o bastão:

                        - Olhe. Do outro lado do portão por onde você entrou, há um outro
                  portão.  Abra-o  e  siga  em  frente, sempre em  frente, por  terreno plano ou
                  escarpado, macio ou duro, seco ou úmido. Eu lhe garanto que encontrará o
                  rei Luna, sempre à frente. Mas corra, corra, corra sempre!

                        Shasta assentiu com  a cabeça e desapareceu no portão, correndo. O
                  eremita ajudou Aravis a entrar na casa. Depois de bastante tempo regressou
                  ao pátio, dizendo para os cavalos:
                        - E a vez de vocês, meus primos.

                        Tirou as rédeas e as selas de ambos e os escovou melhor do que o
                  faria o cocheiro de um rei.

                        - Não  pensem  mais  em  problemas,  meus  primos,  e  repousem.  Aqui
                  têm água e capim. Depois que eu ordenhar minhas primas, as cabras, vocês
                  poderão comer uma papa de farelo.

                        - Senhor - interveio Huin, só agora recuperando a voz -, a tarcaína vai
                  se salvar?
                        - Eu, que sei muitas coisas do presente - replicou o eremita com um
                  sorriso -, pouco sei das coisas futuras. Por isso não sei se qualquer homem
                  ou mulher ou animal, em todo o mundo, estará ainda vivo quando anoitecer
                  hoje. Mas incline-se à esperança. A moça provavelmente viverá.

                        Ao voltar a si, Aravis viu-se deitada de bruços numa cama rente ao
                  chão, mas extremamente macia, em um quarto de paredes de pedra. Sem se
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