Page 280 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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tiiim... tiiim...  -  experimentar  as cordas dos  arcos.  Por toda  a  parte  era a
                  mesma  coisa:  gente  colocando  elmos,  puxando  espadas,  cingindo  cintos,
                  quase sem dizer palavra. Era tudo muito solene e dava medo.

                        “Agora não tenho saída” - pensou Shasta -, “agora estou aqui.”

                        De longe chegava o som de gritos e um surdo tontom.

                        - Golpes de aríete - murmurou Corin. - Estão forçando as portas. - E
                  acrescentou,  com  uma  expressão  agora  muito  séria:  -  Por  que  o  rei
                  Edmundo  não  parte  para  cima  deles?  Não  agüento  essa  demora.  É  de
                  morte!
                        Shasta concordou com a cabeça, esperando não aparentar todo o medo
                  que sentia.

                        Por fim, a trompa! O pavilhão desfraldou-se no vento, com o trote dos
                  cavalos. Todo o cenário abriu-se de repente: um pequeno castelo de muitos
                  torreões, com o portão à frente deles. Não tinha fosso, infelizmente. Sobre
                  as  muralhas  viam-se  os  defensores.  Embaixo,  cerca  de  cinqüenta
                  calormanos,  desmontados,  forçavam  os  portões  com  um  vasto  tronco  de
                  árvore.  Mas  bem  depressa  a  cena  mudou.  O  grosso  dos  homens  de
                  Rabadash estava a pé, pronto para invadir os portões. E tinham acabado de
                  perceber os narnianos que desciam da serra.

                        Sem dúvida alguma, os calormanos eram muito bem exercitados. Em
                  um  segundo,  toda  uma  linha  do  inimigo  estava  novamente  a  cavalo,
                  rodopiando para enfrentá-los, saltando de encontro a eles.

                        E  um  galope  agora.  O  espaço  entre  os  dois  exércitos  diminuía  de
                  momento a momento. Rápido, mais rápido. Espadas nuas, escudos à altura
                  do nariz, orações feitas, dentes cerrados.

                        Shasta estava morrendo de medo. Mas de repente pensou que ter medo
                  naquele  momento  era  sentir  medo  em  todas  as  outras  lutas  de  sua  vida.
                  “Agora ou nunca!”
                        Quando as duas formações se encontraram ele teve uma idéia muito
                  pálida  do  que  estava  acontecendo.  Foi  uma  confusão  assustadora,  um
                  estrépito de enlouquecer. A espada não demorou a ser derrubada de suas
                  mãos.  Embaraçaram-se  suas  rédeas,  e  viu-se  escorregando  do  cavalo.  Aí
                  uma lança veio na sua direção e, enquanto ele se agachava para evitá-la...

                        Mas de nada vale descrever o combate do ponto de vista de Shasta,
                  que  pouco  entendia  da  luta  em  geral  e  mesmo  da  sua  pequena  guerra
                  particular.  Para  contar  o  que  realmente  acontecia,  levarei você  para bem
                  longe dali, para onde o eremita se postava a olhar para a água do tanque,
                  sob a árvore frondosa, com Bri, Huin e Aravis a seu lado.
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