Page 281 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Pois era para dentro desse tanque que o eremita olhava quando queria
                  saber o que se passava no mundo, além dos muros verdes do eremitério.
                  Como num espelho, conseguia ver no tanque cidades mais longínquas que
                  Tashbaan,  navios  que  deixavam  os  portos  e  até  assaltantes  e  feras  que
                  perambulavam pelas grandes florestas entre o Ermo do Lampião e Teimar.
                  Naquele dia pouco deixou o tanque, nem mesmo para comer ou matar a
                  sede, pois sabia que grandes eventos estavam acontecendo em Arquelândia.
                  Aravis e os cavalos também olhavam para o interior do poço. Em vez do
                  céu e dos ramos refletidos, viam confusas formas coloridas que se moviam.
                  Mas não viam com nitidez. Era o eremita que lhes dizia de vez em quando
                  o que ia vendo claramente. Um pouco antes de Shasta ter seguido para a
                  sua primeira batalha, ele começou a falar assim:

                        - Estou  vendo  uma...  duas...  três  águias  girando  acima  do  Pico  da
                  Tempestade. Uma é a mais velha de todas as águias. Não estaria lá se uma
                  batalha não estivesse para explodir. Ah... Agora vejo o motivo pelo qual
                  Rabadash  e  seus  homens  andaram  tão  ocupados  o  dia  todo.  Derrubaram
                  uma  grande  árvore  e  fizeram  do  tronco  um  aríete.  Aprenderam  alguma
                  coisa com o fracasso do assalto da noite passada. Procederia ele com mais
                  inteligência  se  mandasse  os  homens  fazerem  escadas.  Mas  levaria  mais
                  tempo,  e  ele  é  impaciente.  Tresloucado!  Ele  deveria  ter  retornado  para
                  Tashbaan  logo  depois  de  fracassado  o  primeiro  ataque,  pois  todo  o  seu
                  plano  dependia  da  surpresa  e  da  rapidez.  Estão  colocando  o  aríete  em
                  posição.  Os  homens  do  rei  Luna  atiram  de  cima  das  muralhas.  Caíram
                  cinco  calormanos;  mas  muitos  restarão,  mantendo  os  escudos  acima  das
                  cabeças. Rabadash agora está transmitindo novas ordens. Estão com ele os
                  senhores  de  mais  confiança,  os  cruéis  tarcaãs  das  províncias  do  Oriente.
                  Vejo  até  os  seus  rostos.  Ali  vai  Coradin  do  Castelo  de  Tormunt,  e
                  Chlamash, e Ilgamute, o do lábio torcido, e um alto tarcaã com uma barba
                  escarlate...

                        - Pela juba! É o meu antigo amo Anradin! - exclamou Bri.

                        - Psiu! - disse Aravis.

                        - O aríete agora começa a funcionar. São terríveis pancadas, mas não
                  posso ouvi-las. Não há porta ou portão que agüente. Um momento! Alguma
                  coisa no Pico da Tempestade assustou as aves. Estão vindo em massa. Um
                  momento! Ainda não posso ver... Ah! Já vejo. A encosta leste está negra de
                  cavaleiros.  Já  vi  o  pavilhão.  Nárnia!  Nárnia!  É  o  Leão  vermelho!
                  Desabalaram serra abaixo. Estou vendo o rei Edmundo. Há uma dama entre
                  os arqueiros. Ó!

                        - Que foi? - perguntou Huin, ofegante.
                        - Todos os gatos se lançam pela esquerda da linha.
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