Page 486 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Mas não gostou de ver a sua própria face com aquela barba e aquele
                  cabelo. Continuou andando. “Eu é que não sei para que seria o espelho com
                  barba e cabelo, pois não sou mágico.”

                         Antes  de  chegar  à  última  porta,  Lúcia  começou  a  imaginar  se  o
                  corredor não teria aumentado de tamanho desde que começara a percorrê-lo
                  e se aquilo não seria uma parte do encantamento da casa. Por fim chegou
                  lá. A porta estava aberta.

                         Era uma sala enorme, com três grandes janelas, cheia de livros do
                  chão ao teto. Lúcia nunca vira tantos livros, tantos livros – livros fininhos,
                  grossões,  livros  maiores  do  que  qualquer  Bíblia  de  igreja,  todos
                  encadernados em couro e cheirando a velhice, sabedoria e magia. Mas já
                  sabia,  pelas  instruções  fornecidas,  que  não  devia  preocupar-se  com
                  qualquer  um  deles,  pois  o  livro,  o  livro  mágico,  estava  numa  estante  de
                  leitura, bem no centro da sala.

                         Viu logo que tinha de ler o livro em pé (não havia cadeiras) e com as
                  costas voltadas para a porta. Foi logo fechar a porta. Mas a porta não se
                  fechou.
                         Algumas pessoas podem discordar de Lúcia neste ponto, mas acho
                  que ela tinha razão. Era de fato desagradável estar num lugar como aquele
                  com uma porta aberta às costas. Eu sentiria o mesmo. Mas nada se podia
                  fazer.

                         O que mais a preocupava era o tamanho do livro. A voz do chefe não
                  soubera dizer-lhe em  que parte do livro  se  encontrava  a fórmula  mágica
                  para  tornar  as  pessoas  visíveis.  Ficara  até  muito  surpreso  quando  ela  o
                  indagara. Lúcia devia começar pelo princípio e continuar até achar. Claro
                  que ela nunca pensara haver outro modo de encontrar uma coisa em um
                  livro.

                         “Mas posso ficar nisso dias e até semanas!”, disse Lúcia, ao olhar
                  para o imenso volume. “Tenho a sensação de que já estou neste lugar há
                  séculos!”

                         Dirigiu-se para a estante de leitura e pôs as mãos no livro; seus dedos
                  estremeceram como se o livro estivesse carregado de eletricidade.

                         A  princípio  não  foi  capaz  de  abri-lo,  pois  estava  preso  por  dois
                  fechos de bronze; abriu-se facilmente depois. Que livro, puxa!
                         Não  era  impresso.  Estava  escrito  à  mão  numa  letra  clara  e  nítida,
                  com as hastes das letras muito carregadas e as pernas escritas de leve; uma
                  letra muito maior e muito mais fácil de ler do que a do jornal e tão bonita
                  que Lúcia ficou algum tempo encantada, só a olhar, esquecida de ler. Do
                  papel macio emanava um bom aroma. Nas margens e em redor das grandes
                  letras com que começavam os encantamentos, havia desenhos.
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