Page 482 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– É, chefe, é, pois é! – disseram os outros. – Não poderia nunca falar
                  tão bem.

                         – E fui eu quem atirei! – continuou a voz do chefe. – Ficam visíveis
                  quando saem da nossa mão.

                         – Mas por que desejam que eu faça isso? – perguntou Lúcia. – Por
                  que não fazem vocês? Não há moças entre vocês?

                         – Não somos capazes, não somos capazes – disseram as vozes todas.
                  – Não iremos lá em cima de novo.
                         – Em outras palavras – disse Caspian –, estão pedindo que a moça
                  enfrente um perigo que não ousam pedir às suas irmãs ou suas filhas?

                         – Isso mesmo, isso mesmo – disseram as vozes, entusiasticamente. –
                  Não poderia ter falado melhor. O senhor tem cultura, tem. Vê-se.

                         –  É  o  mais  ultrajante...  –  começou  a  dizer  Edmundo,  mas  foi
                  interrompido por Lúcia:

                         – Tenho que ir lá em cima de dia ou de noite?
                         – Claro que de dia, de dia! – respondeu a voz do chefe. – Não, de

                  noite não. Ninguém iria exigir uma coisa dessas. Ir lá em cima de noite?
                  Nem pensar.
                         – Muito bem, então vou lá – afirmou Lúcia. – Não! – disse, virando-
                  se para os outros. – Não tentem impedir-me. Não percebem que não vale a
                  pena? Estão aqui dezenas deles. Não podemos vencê-los. Assim, sempre
                  teremos uma possibilidade.

                         – Mas... e o mágico!? – exclamou Caspian.

                         – Sei, o mágico! – disse Lúcia. – Mas não deve ser tão mau como o
                  pintam. Vocês já devem ter percebido que esses invisíveis não são lá muito
                         valentes...

                         – Nem muito inteligentes – disse Eustáquio.

                         –  Espere  aí,  Lu  –  disse  Edmundo  –,  francamente,  não  podemos
                  permitir que faça uma coisa dessas. Pergunte ao Rip.

                         – Mas é para salvar a minha vida também, não só a de vocês – disse
                  Lúcia.  –  Não  quero,  tanto  quanto  vocês,  ser  cortada  em  pedacinhos  por
                  espadas invisíveis.

                         –  A  rainha  tem  razão  –  disse  Ripchip.  –  Se  tivéssemos  qualquer
                  condição de salvá-la em combate, o nosso dever seria óbvio. Mas acho que
                  não temos. E o serviço que se lhe exige não é contrário à honra de Sua
                  Majestade; é, sim, um nobre e heróico ato. Se é da vontade da rainha correr
                  o risco com o mágico, não me pronunciarei em contrário.
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