Page 484 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                         O  povo  invisível  acolheu  regiamente  seus  convidados.  Era  muito
                  engraçado  ver  as  travessas  e  os  pratos  virem  para  a  mesa  sem  ninguém
                  trazê-los. Já seria engraçado se se deslocassem mantendo o mesmo nível
                  em relação ao solo, como seria de esperar que acontecesse, sendo trazidos
                  por mãos invisíveis. Mas não era assim. Avançavam pela sala de jantar aos
                  saltos. No ponto mais alto de cada salto o prato distava do chão uns três
                  metros,  depois  descia  e  parava  subitamente  a  um  metro  de  distância  do
                  chão. Se o prato continha qualquer coisa como sopa ou molho, o resultado
                  era desastroso. Eustáquio murmurou para Edmundo:

                         –  Estou  ficando  muito  intrigado  com  essa  gente.  Acha  que  são
                  humanos? Penso que são gafanhotos gigantescos ou imensas rãs.

                         – Parecem mesmo algo assim, mas não meta essa idéia de gafanhoto
                  na cabeça de Lúcia. Ela não suporta insetos, especialmente enormes desse
                  jeito.

                         A refeição poderia ter sido mais agradável se não fosse toda aquela
                  sujeira,  e  também  se  a  conversa  não  tivesse  consistido  inteiramente  em
                  aprovações.  A  gente  invisível  concordava  com  tudo.  Aliás,  era  mesmo
                  difícil discordar da maioria de suas afirmações:
                  – É o que eu vivo dizendo: quando uma pessoa tem fome, gosta de comer.
                  –  Ou:  Está  ficando  escuro;  de  noite  é  sempre  assim  –  Ou  então:  Vocês
                  vieram pela água; é muito molhada, não é?
                         Lúcia não podia deixar de olhar para a bocarra escura da entrada, na
                  base da escada, e punha-se a imaginar o que iria acontecer quando subisse
                  na manhã seguinte.

                         De qualquer modo, foi uma boa refeição, com sopa de cogumelos,
                  galinha cozida, fiambre, groselhas, passas, requeijão, manteiga, leite e hi-
                  dromel.  Todos  gostaram  de  hidromel,  mas  Eustáquio,  mais  tarde,
                  arrependeu-se de ter bebido.

                         Lúcia acordou no dia seguinte como se fosse manhã de prova ou de
                  dentista.  As  abelhas  zumbiam,  entrando  e  saindo  pela  janela  aberta,  e  o
                  campo lá fora lembrava a Inglaterra. Levantou-se, vestiu-se e tentou falar e
                  comer com naturalidade durante o café da manhã.
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