Page 489 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Pois quero ver este ano! Você vai ver! – gritou Lúcia. – Sua falsa!
O próprio som de sua voz lembrou-lhe que estava apenas falando
com uma gravura e que a verdadeira Margarida estava muito longe, em
outro mundo. Lúcia disse para si mesma: “Achei que ela fosse melhor. No
ano passado eu a ajudei tanto! Ninguém faria o que eu fiz! E ela sabe muito
bem disso! E logo com a Ana! Será que as minhas amigas todas são assim?
Há mais gravuras aqui. Não quero vê-las, não quero, não quero!”
Com grande esforço, virou a página, não sem uma grande lágrima de
raiva.
Na página seguinte, vinha um feitiço para “refrescar o espírito”. As
gravuras eram em menor número, mas muito bonitas. Lúcia se pegou lendo
qualquer coisa que mais parecia uma história do que um encantamento.
Antes de chegar ao fim da última página (eram três), esquecera-se
completamente do que estava lendo. Vivia a história como se fosse real, e
também as gravuras pareciam verdadeiras. Quando chegou ao fim, disse:
– É a história mais maravilhosa que já li ou ainda lerei em minha
vida. Gostaria de continuar lendo isso durante dez anos inteiros! Ou pelo
menos ler de novo!
Aqui entrou em cena um pouco da magia do livro. Não se podia
voltar para trás. As páginas da direita podiam ser viradas, mas não as da
esquerda.
– Que pena! Gostaria tanto de ler a história novamente. Bem.
Lembrar dela pelo menos eu posso. Vamos ver: tratava de... de... Oh, não!
Está sumindo tudo. A última página também está ficando branca. Que livro
mais esquisito! Como é que eu fui esquecer? Falava de uma taça, de uma
espada, de uma árvore, uma colina verde... disso me lembro bem. Mas não
me lembro do resto. Que hei de fazer?
Nunca mais foi capaz de lembrar, mas, desde então, quando Lúcia
acha que uma história é boa, é porque lhe lembra a história esquecida do
livro mágico. Foi virando as folhas e, para sua surpresa, encontrou uma
página sem gravuras, cujas primeiras palavras eram:
FEITIÇO PARA
TORNAR VISÍVEIS COISAS OCULTAS
Leu com a máxima atenção para ter certeza de todas as palavras
essenciais, e depois disse-as em voz alta. Viu logo que dava resultado: à
medida que ia falando as palavras, as cores se convertiam em letras grandes
no alto da página e apareciam gravuras nas margens. Era como aproximar
do fogo alguma coisa escrita com tinta invisível; as letras foram aparecendo