Page 493 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Bem, ao permitir que os Tontos ficassem invisíveis, eu sabia que
                  você apareceria um dia para libertá-los do encantamento. Não sabia era o
                  dia  certo.  E  esta  manhã,  por  acaso,  nem  estava  tomando  conta.  Eles
                  também  me  tornaram  invisível,  e  ficar  invisível  põe  a  gente  meio
                  sonolento. Oh... já estou bocejando outra vez. Está com fome?

                         – Um pouco, acho – respondeu Lúcia. – Nem faço idéia da hora.

                         – Venha. Para Aslam todo tempo é breve, mas na minha casa a hora
                  da fome é à uma hora.


                         Conduziu-a pelo corredor e abriu uma porta. Lúcia achou-se numa
                  sala agradável, cheia de luz e de flores.

                         A  mesa  estava  vazia  quando  entraram,  mas,  como  era  uma  mesa
                  encantada, a uma palavra do velho mágico a toalha cobriu-se de talheres,
                  pratos, copos e comida.

                         – Espero que goste. Tentei oferecer-lhe uma comida mais parecida
                  com a da sua terra do que a que tem comido nos últimos tempos.

                         – E ótima – disse Lúcia, e era realmente: omelete quente, cordeiro
                  com ervilhas, sorvete de morango, limonada, um copo de chocolate. Mas o
                  mágico  bebeu  apenas  vinho  e  comeu  pão.  Seu  aspecto  não  era  nada
                  inquietante; em pouco tempo os dois batiam papo como velhos amigos.

                         –  Quando  o  desencanto  começa  a  agir?  –  perguntou  Lúcia.  –  Os
                  Tontos vão ficar visíveis outra vez?
                         –  Já  ficaram,  mas  ainda  devem  estar  dormindo.  Sempre  fazem  a
                  sesta.

                         – E agora que já estão visíveis vai deixar que continuem tão feios?
                  Não vão ficar como antes?

                         – Bem, isso é uma questão muito delicada. Eles é que se julgavam
                  bonitos antes. Dizem que ficaram feios, mas esta não é a minha opinião.
                  Muita gente diria que mudaram para melhor.

                         – São assim tão pretensiosos?
                         –  São.  Pelo  menos  o  chefe  é,  e  ensina  os  outros  a  mesma  coisa.
                  Acreditam em tudo que ele diz.

                         -Já notei isso.

                         – De certo modo, as coisas seriam melhores sem ele. Claro que eu
                  podia transformá-lo em qualquer coisa; ou fazer com que não acreditassem
                  em mais nada do que ele diz. Mas não quero fazer isso. Prefiro que eles o
                  admirem a não admirarem ninguém.
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