Page 494 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Não admiram o senhor?

                         – Admiram nada! Nunca me admirariam.

                         – Foi por isso que os pôs assim feios, quero dizer, o que eles chamam
                  de feios?

                         – O caso é que não quiseram fazer o que lhes disse. O trabalho deles
                  é tratar do jardim e cultivar alimento, não para mim, como imaginam, mas
                  para eles próprios. Não fariam isso se eu não os obrigasse. Para tratar um
                  jardim é preciso água. Há uma bela nascente a cerca de meio quilômetro
                  daqui. Dessa nascente vem um riacho que passa pelo meu jardim. Só disse
                  para eles que tirassem a água do riacho, em vez de subirem até a nascente
                  com baldes, duas ou três vezes por dia, cansando-se e entornando metade
                  da  água  pelo  caminho.  Mas  não  quiseram  compreender.  Por  fim,
                  recusaram-se terminantemente a fazer o que lhes dizia.
                         – São estúpidos a esse ponto?

                         O mágico suspirou:

                         – Você nem pode imaginar que problemas tenho tido com eles! Há
                  uns  meses  estavam  lavando  pratos  e  facas  antes  do  almoço,  porque,
                  segundo  diziam,  isso  economizava  tempo  depois.  Outra  vez  estavam
                  plantando  batatas  cozidas  para  não  terem  de  cozinhá-las  quando  as
                  colhessem. Um dia o gato meteu-se na leiteira, e vinte deles começaram a
                  tirar o leite, em vez de pensar em tirar o gato. Vamos dar uma olhadela nos
                  Tontos, agora que você terminou de comer.

                         Foram  para  um  outro  aposento,  cheio  de  instrumentos  polidos  e
                  difíceis  de  entender  –  tais  como  astrolábios,  cronoscópios,  teodolito  –,  e
                  chegaram à janela:

                         – Lá estão eles, os meus Tontos.
                         – Não estou vendo ninguém – protestou Lúcia. – Que são aquelas
                  coisas parecidas com cogumelos?

                         As  coisas  que  a  menina  apontava  estavam  todas  espalhadas  pela
                  relva. Eram mesmo muito parecidas com cogumelos, mas muito maiores.
                  As hastes tinham cerca de um metro de altura, e os chapéus eram quase do
                  mesmo tamanho, de ponta a ponta. Ao olhá-los com atenção, reparou que
                  as hastes não se ligavam ao chapéu pelo meio, mas por um dos lados, o que
                  lhes  dava  um  aspecto  de  desequilíbrio.  E  havia  alguma  coisa  –  algo
                  parecido com pequenas trouxas – junto da base de cada haste. Na realidade,
                  quanto mais os olhava, menos lhe pareciam cogumelos. A parte do chapéu
                  não  era  realmente  redonda  como  pensara  antes.  Era  mais  comprida  que
                  larga,  mas  arredondava-se  numa  das  extremidades.  Estavam  ali  muitos,
                  cinqüenta, talvez mais.
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