Page 495 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O relógio deu três horas. E aconteceu uma coisa extraordinária. Os
                  “cogumelos” de repente viraram-se para cima. As trouxinhas que estavam
                  no fundo das hastes eram cabeças e corpos, e as hastes eram as pernas. Não
                  duas para cada corpo. Cada corpo tinha uma única perna grossa no meio
                  (não de lado, como a perna de um coxo) e, na extremidade da perna, um pé
                  enorme,  com  grandes  dedos  recurvados,  como  uma  canoa.  Lúcia  os  vira
                  deitados com as costas no chão, de perna levantada para o ar e o pé enorme
                  tapando todo o corpo. Soube depois que era assim que eles descansavam,
                  pois o pé os protegia da chuva e do sol. Era como se estivessem debaixo de
                  uma barraca.

                         –  Que  gozado,  que  gozado!  –  gritou  ela,  estourando  de  rir.  –  Foi
                  nisso que os transformou?

                         – Foi. Transformei os Tontos em Monópodes – disse o mágico. Ria-
                  se tanto também que as lágrimas lhe corriam pela face. – Mas repare.

                         Valia a pena reparar. Aqueles anõezinhos de um pé só não corriam
                  nem andavam como nós; andavam aos saltos, como as pulgas e as rãs. E
                  que saltos! Como se cada pé imenso daqueles fosse um punhado de molas.
                  E com que força quicavam quando desciam ao chão! Era o que produzia
                  aquelas  pancadas  que  intrigaram  tanto  Lúcia  no  dia  anterior.  Saltavam
                  agora em todas as direções e gritavam uns para os outros.
                         – Oi, camaradas, já somos visíveis outra vez – disse um de barrete
                  vermelho  com  borlas,  que  era  sem  dúvida  o  chefe.  –  Quer  dizer,  estou
                  dizendo que, quando somos visíveis, podemos ver uns aos outros.

                         – Genial, isso mesmo, chefe – gritaram todos. – Ninguém pode ser
                  mais genial. Nunca jamais poderia falar melhor.

                         –  A  mocinha  apanhou  o  velhote  dormindo  –  disse  o  chefe.  –
                  Ganhamos dele dessa vez.

                         – É o que a gente ia dizer — retrucou o coro. – Está mais inteligente
                  do que nunca, chefe! Continue assim, continue assim.

                         –  Mas  como  ousam  falar  assim  do  senhor?  –  perguntou  Lúcia.  –
                  Pareciam ter tanto medo ontem. Não sabem que o senhor pode ouvi-los?
                         – Essa é uma das coisas engraçadas com relação aos Tontos. Num
                  minuto falam como se eu mandasse em tudo, ouvisse tudo e fosse muito
                  perigoso.

                         Um minuto depois, julgam que me apanham em armadilhas nas quais
                  nem uma criancinha cairia.

                         – Têm mesmo de voltar à forma antiga? Não acho que seja maldade
                  deixá-los assim como estão. Parecem tão felizes! Olhe o salto daquele!

                         Como eram antes?
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