Page 480 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 480
– O que é? – perguntou Lúcia.
– Se é algo contra a honra ou a segurança de Vossa Majestade –
acrescentou Ripchip –, hão de ver quantos matamos antes de morrer.
– Olhem aqui, isto é, escutem aqui: a história é muito comprida. Que
tal se nos sentássemos todos?
A proposta foi acaloradamente aprovada pelas outras vozes, mas os
de Nárnia continuaram de pé.
– Bem – disse a voz do chefe –, o negócio é o seguinte: esta ilha
pertence a um mágico há uma infinidade de tempo. Nós todos somos, ou
talvez seja mais exato dizer, fomos servos dele. Para resumir um pouco,
esse mágico, de que eu estava falando, disse-nos para fazer uma coisa de
que não gostávamos. Por quê? Porque não queríamos.
Pois bem, então o tal mágico ficou louco de raiva.
Era o dono da ilha e não estava habituado a ser desobedecido. Era
um homem muito rude! Esperem um pouquinho... O que eu estava
dizendo?
Ah, sim, pois esse mágico foi lá para cima (ele guardava tudo o que
era de magia em cima, e nós vivíamos embaixo). Então ele subiu e nos
colocou um encantamento. Pois é, como eu ia dizendo... um encantamento
que nos deixou feios, terrivelmente feios! Se nos vissem agora, acho que
agradeceriam a seus deuses por não nos verem; não acreditariam como
éramos antes do encantamento. Nem acreditariam que fôssemos os
mesmos.
Ficamos tão feios que nem podemos olhar uns para os outros. Vou
contar o que fizemos: quando chegou a noite, esperamos até que o mágico
adormecesse, rastejamos pela escada e, com uma ousadia fora do comum,
fomos até o livro mágico, para ver se era possível dar um jeito naquela
feiúra. Não minto: tremíamos e suávamos dos pés à cabeça. Acreditem ou
não, não encontramos nenhum sortilégio que curasse a feiúra. O tempo
passando! E nós com um medo enorme que o homem acordasse de um
momento para outro: eu estava coberto de suores frios, confesso, não
minto; bem, para resumir a história, não sei se fizemos bem ou mal, mas
demos por fim com um feitiço que tornava as pessoas invisíveis. E
achamos que era preferível sermos invisíveis a sermos tão feios. Por quê?
Questão de gosto. Então, a minha garotinha, que tem mais ou menos a
idade da sua, e que era uma doce criança antes de ficar horrorosa, se bem
que agora... quanto menos se falar nisso, melhor... Como ia dizendo, a
minha menina pronunciou as palavras do encantamento, pois têm de ser
ditas por uma garota ou pelo próprio mágico para produzirem efeito,
entendem? Assim, a minha Clípsia disse as palavras mágicas. Já devia ter