Page 479 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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resolvidas a dar-nos combate, pode ter a certeza de que o farão. Prefiro
combatê-las frente a frente a ser agarrado pelas canelas.
– Creio que desta vez Rip tem razão – disse Lúcia. – Se Rince e os
outros do Peregrino nos vissem combatendo na praia, haveriam de fazer
alguma coisa.
– Não iriam nos ver combatendo, porque não veriam o inimigo –
disse Eustáquio desconsoladamente. – Julgariam que estamos brandindo as
espadas no ar, de brincadeira.
Foi um silêncio penoso.
– Bem – disse, por fim, Caspian –, temos de enfrentá-los. Apertem as
mãos. Flechas nos arcos!
Espada desembainhada! Vamos em frente. Talvez queiram
parlamentar.
Era estranho ver os prados e as grandes árvores tão serenas enquanto
marchavam para a praia. E quando ali chegaram e viram o bote, a areia
macia e deserta, mais de um duvidou se Lúcia não teria imaginado tudo
aquilo que contara. Mas, antes de chegarem à areia, a voz falou do ar:
– Não avancem mais, cavalheiros, não avancem mais. Temos que
falar primeiro. Somos aqui uns cinqüenta de armas na mão.
– Escutem o que ele diz, escutem o que ele diz – fez o coro. – É o
chefe. Vocês dependem do que ele vai dizer. E ele nunca diz uma mentira,
uma só.
– Não vejo esses cinqüenta guerreiros – observou Ripchip.
– Lá isso é verdade, lá isso é verdade – disse a voz do chefe. – Vocês
não podem nos ver, porque somos invisíveis.
– Isso mesmo, chefe, isso mesmo – disseram as outras vozes. – Fala
como um livro aberto. Nunca jamais poderia ter melhor resposta do que
esta.
– Calma, Rip – murmurou Caspian; depois acrescentou em voz mais
alta: – Gente invisível, que querem de nós? Que fizemos para merecer sua
inimizade?
– Queremos uma coisa que essa mocinha pode fazer – falou a voz do
chefe. E as outras vozes repetiram a mesma coisa.
– Mocinha! – exclamou Ripchip. – Esta senhora é uma rainha!
– Não entendemos de rainhas – disse a voz do chefe. (“Nem nós,
nem nós!”, disseram as outras vozes.) Mas queremos uma coisa que ela
pode fazer.