Page 474 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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botas também virou ouro. E aquele coitado lá no fundo... bem, vocês estão
                  vendo.

                         – Então não é uma estátua – disse Lúcia, com a voz sumida.

                         – Não. Agora está tudo claro. Ele veio aqui num dia quente. Tirou a
                  roupa  no  alto  da  rocha,  onde  estamos  sentados.  As  roupas  devem  ter
                  apodrecido, ou foram levadas pelas aves para fazer ninhos.

                         A armadura ainda está ali. Mergulhou e...
                         – Não fale mais nada – exclamou Lúcia. – Que coisa medonha!

                         – Escapamos por um triz! – disse Edmundo.

                         –  Por  um  triz!  –  concordou  Ripchip.  –  Mais  um  pouco  e  a  gente
                  enfiava o pé na água, ou os bigodes, até mesmo a cauda...

                         – Vamos tirar a prova – falou Caspian.
                         Arrancou um galho e, com muito cuidado, ajoelhou-se junto do poço
                  mergulhando a haste. Foi vegetal o que mergulhou, mas o que tirou da água
                  era um perfeito modelo de ramo feito de ouro, pesado e maciço como o
                  chumbo.

                         – O rei que possuísse esta ilha – disse Caspian vagarosamente, e ao
                  falar  seu  rosto  se  iluminou  –  seria  em  pouco  tempo  o  rei  mais  rico  do
                  mundo.

                         Declaro  esta  ilha  possessão  de  Nárnia  para  sempre!  Será  chamada
                  Ilha das Águas de Ouro. Exijo que todos guardem segredo. Nem mesmo
                  Drinian deve saber. E isto sob pena de morte, entenderam?

                         – Mas com quem está falando? – indagou Edmundo. – Não sou seu
                  súdito. Só se for o contrário. Sou um dos mais antigos soberanos de Nárnia,
                  e você jurou fidelidade ao Grande Rei, meu irmão.
                         – Ah, é assim, rei Edmundo? – perguntou Caspian, apoiando a mão
                  no punho da espada.

                         – Parem com isso – interveio Lúcia. – E o que dá a gente andar com
                  rapazes. Vocês são uns valentões bobocas. Oh!... – e a voz morreu-lhe num
                  espasmo.

                         E todos viram o que ela havia visto.

                         Lá no alto, na falda cinzenta do monte, caminhava em passo lento,
                  sem ruído, sem olhar para eles, e brilhando como se estivesse à luz do sol e
                  não no crepúsculo, o maior leão que olhos humanos jamais viram.

                         Mais  tarde,  Lúcia,  ao  descrever  a  cena,  diria  “do  tamanho  de  um
                  elefante”, ainda que em outrás ocasiões dissesse apenas “do tamanho de um
                  cavalo de circo”.
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