Page 473 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O  fundo  do  poço  era  feito  de  grandes  pedras  azul-acinzentadas,  a
                  água  era  completamente  transparente,  e  no  fundo  jazia  uma  figura  de
                  homem,  que  parecia  feita  de  ouro.  Tinha  o  rosto  virado  para  baixo  e  os
                  braços  estendidos  acima  da  cabeça.  Enquanto  observavam,  as  nuvens
                  afastaram-se,  deixando  brilhar  o  sol,  que  iluminou  a  figura  de  ouro  por
                  completo. Lúcia pensou que nunca vira estátua tão bela.

                         –  Puxa!  –  exclamou  Caspian.  –  Vale  a  pena  ver  isto.  Poderemos
                  retirá-la de lá?

                         – Podemos mergulhar, senhor – disse Ripchip.

                         –  Não  pode ser  –  falou  Edmundo.  –  Se  for  realmente  de  ouro,  de
                  ouro puro, é muito pesada para ser puxada. E o poço tem pelo menos uns
                  três  metros  de profundidade.  Esperem  um  pouco.  Ainda bem  que  trouxe
                  minha lança. Vamos ver a profundidade disso. Segure minha mão, Caspian,
                  enquanto me debruço.
                         Caspian agarrou-lhe a mão e Edmundo, inclinando-se para a frente,
                  começou a mergulhar a lança na água.

                         – Acho que não é de ouro – disse Lúcia. – A luz é que faz aquilo. A
                  lança está da mesma cor da estátua.

                         – O que aconteceu? – perguntaram várias vozes ao mesmo tempo,
                  pois Edmundo deixara cair a lança de sua mão.

                         – Não consegui segurá-la – articulou Edmundo. – Ficou tão pesada...

                         -Já  está  no  fundo  –  disse  Caspian.  –  Lúcia  tem  razão.  Parece  da
                  mesma cor da estátua.
                         Mas  Edmundo,  parecendo  ter  qualquer  problema  com  suas  botas,
                  pois  estava  inclinado  a  espiá-las,  endireitou-se  de  súbito  e  gritou  com
                  aquela voz cortante que ninguém ousa desobedecer:

                         – Saiam da água! Todos! Já!

                         Todos se afastaram e ficaram olhando para ele, admirados.

                         – Olhem as minhas botas – gritou ainda Edmundo.
                         – Estão muito amarelas – ia dizendo Eustáquio.

                         – São de ouro, de ouro puro – interrompeu Edmundo. – Olhem bem.
                  Peguem. Pesam mais do que chumbo.

                         – Por Aslam! – exclamou Caspian. – Você não está querendo dizer...

                         –  Estou  querendo,  sim.  Esta  água  transforma  tudo  em  ouro.
                  Transformou a lança e por isso ela ficou tão pesada. Os meus pés estavam
                  quase lá dentro (ainda bem que não estou descalço!), e a parte da frente das
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