Page 470 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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para a frente. Naquele mesmo momento, a serpente fora empurrada com
muita força, ou ela mesma resolvera estupidamente apertar o laço, e
esmagou a ré do navio, libertando-o completamente.
Os outros estavam demasiado exaustos para ver o que Lúcia viu: a
poucos metros, a argola formada pelo corpo da serpente tornava-se menor e
desaparecia num espadanar de água. Lúcia sempre disse (pode ter sido
imaginação dela, pois estava muito excitada) que vira na serpente uma
expressão de contentamento imbecil.
O animal era mesmo muito estúpido, pois em vez de perseguir o
navio virou a cabeça e começou a procurar ao longo do corpo com o
focinho, julgando talvez encontrar os destroços do Peregrino. Mas este já
seguia seu caminho, impelido por um vento suave. A tripulação espalhava-
se pelo convés, uns deitados, outros sentados, gemendo e queixando-se.
Breve, já comentavam o caso e até riam.
Enquanto se distribuía vinho e alimento, todos começaram a dar
vivas e a elogiar a valentia de Eustáquio (embora nada tivesse feito de
decisivo) e de Ripchip.
Depois desse incidente navegaram três dias entre céu e mar. No
quarto dia o vento virou para o norte e o mar começou a agitar-se. À tarde,
já era quase um furacão. Foi quando viram terra a bom-bordo.
– Se Vossa Majestade me permitir – disse Drinian –, vamos remar
para a costa para ficar a sotavento, ancorados até isto passar.
Caspian concordou, mas só chegaram ao ancoradouro perto da noite,
pois tiveram que remar uma grande distância contra a maré.
Ao lusco-fusco entraram num porto natural e ancoraram, mas
naquela noite ninguém desembarcou. Viram de manhã que estavam numa
baía verde, uma terra bravia e solitária que se elevava até um maciço
rochoso. As nuvens desciam em torrente do alto maciço, impelidas pelo
vento norte que soprava detrás dele. Baixaram o bote e encheram-no com
alguns barris vazios.
– Onde vamos buscar água? – perguntou Caspian, ao sentar-se na
popa. – Vêm desaguar dois riachos na baía.
– Tanto faz – respondeu Drinian. – Acho que a estibordo fica o
riacho mais próximo.
– Vai chover! – avisou Lúcia.
– Já está chovendo! – exclamou Edmundo, pois já caíam mesmo
grandes pingos de chuva. – Acho melhor irmos para aquele riacho. Vejo
árvores onde
podemos ficar abrigados.