Page 466 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Uma ave da família dos papagaios gritou no bosque que ficava atrás;
começaram a ouvir barulho entre as árvores e, por fim, o toque da trompa
de Caspian. O acampamento acordara.
Houve júbilo geral quando Edmundo e Eustáquio, este na sua forma
primitiva, chegaram ao círculo dos que tomavam a primeira refeição junto
da fogueira.
Claro que todos ouviram a primeira parte da história. Imaginava-se
se o dragão havia matado lorde Octasiano alguns anos atrás ou se o dragão
velho havia sido o próprio Octasiano. As jóias com que Eustáquio atulhara
os bolsos na caverna haviam desaparecido com as roupas que vestira, mas
ninguém sentia vontade de buscar o tesouro.
Em poucos dias, o Peregrino, com mastro novo, bem sortido de
provisões, estava pronto para partir. Antes de embarcarem, Caspian
mandou inscrever numa rocha macia, virada para o mar, estas palavras:
ILHA DO DRAGÃO
DESCOBERTA POR CASPIAN X,
REI DE NÁRNIA,
NO QUARTO ANO DE SEU REINADO. AQUI, SEGUNDO PARECE,
LORDE OCTASIANO
ENCONTROU A MORTE.
Seria bonito e muito próximo da verdade dizer que, dali por diante,
Eustáquio mudou completamente. Para ser rigorosamente exato, começou a
mudar. Às vezes tinha recaídas. Em certos dias era ainda um chato. Mas a
cura havia começado.
O bracelete de lorde Octasiano teve um curioso destino. Eustáquio
não o quis, oferecendo-o a Caspian, que por sua vez o deu a Lúcia. Mas
também esta não tinha grande interesse em conservá-lo.
– Muito bem, então é de quem pegar – disse Caspian, atirando a jóia
para o alto. Isso se deu no momento em que estavam todos contemplando a
inscrição na pedra.
O bracelete volteou no ar, brilhando à luz do sol, e, caindo, foi ficar
pendurado, como uma ar-gola atirada de propósito, numa saliência na
rocha. Não se podia subir para tirá-lo, nem era possível apanhá-lo pelo lado
de cima.
Assim, lá ficou pendurado e, tanto quanto eu sei, lá ficará até que o
mundo deixe de ser mundo.