Page 503 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Edmundo nunca vira homem de aparência tão selvagem. Embora não
                  parecesse  muito  velho,  tinha  uma  touceira  de  cabelos  brancos,  a  face
                  escaveirada, e apenas alguns farrapos dependurados no corpo. Mas o que
                  mais  impressionava  eram  os  olhos,  tão  abertos  que  pareciam  não  ter
                  pálpebras, e com uma expressão angustiada de terror. Mal tocou os pés no
                  convés, gritou:

                         – Fujam! Virem o navio e fujam! Remem para longe desta maldita
                  terra! Salvem suas vidas!

                         – Acalme-se – disse Ripchip – e diga-nos qual é o perigo. Não temos
                  o hábito de fugir.

                         O estranho estremeceu terrivelmente ao ouvir a voz do rato, no qual
                  ainda não havia reparado.
                         – Seja como for, têm de fugir – arquejou. – Esta é a ilha onde os
                  Sonhos se tornam realidade.

                         –  É  a  ilha  que  eu  procuro  há  muito  tempo  –  disse  um  dos
                  marinheiros. – Se tivesse desembarcado aqui, já estaria casado com Alice.

                         – E eu teria encontrado Tomás vivo – disse o outro.

                         – Loucos! – vociferou o homem, batendo com os pés no chão num
                  acesso  de  raiva.  – Por  causa de disparates  como  esses vim  parar  aqui,  e
                  seria melhor ter morrido afogado ou nunca ter nascido.

                         Ouvem  bem  o  que  digo?  Aqui  os  sonhos  tornam-se  vivos  e  reais.
                  Não os devaneios; os sonhos.
                         Houve um minuto de silêncio. Depois, com um grande chocalhar de
                  armaduras, toda a tripulação correu pelas escadas e se atirou aos remos com
                  toda a energia.

                         Drinian fez rodopiar o leme, e o contramestre aumentou o ritmo das
                  remadas. Tinham levado meio minuto lembrando certos sonhos que haviam
                  tido, sonhos que nos fazem ter medo de dormir outra vez... e imaginando o
                  que  seria  estar  num  país  onde  esses  sonhos  se  tornassem  realidade.  Só
                  Ripchip ficou imóvel.

                         – Majestade, majestade! – clamou. – Vai permitir esse motim? Essa
                  covardia? Isso é pânico! Uma perfeita rebelião!

                         – Continuem a remar – bradou Caspian. – Remem por suas vidas.
                  Sempre  em  linha  reta,  Drinian.  Pode  dizer  o  que  você  quiser,  Rip.  Há
                  coisas que um homem não pode enfrentar.
                         –  Então  agradeço  ao  destino  por  não  ser  um  homem!  –  replicou

                  Ripchip, empertigando-se todo.
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