Page 505 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Aslam, Aslam, se é verdade que alguma vez nos amou, ajude-nos
agora.
A escuridão não diminuiu, mas Lúcia começou a sentir-se um
pouquinho melhor. “Apesar de tudo, ainda não nos aconteceu nada”,
pensou.
– Olhem! – gritou da proa a voz de Rinelfo.
Havia uma tênue luz na frente. Enquanto olhavam, caiu sobre o
navio um largo facho de luz, proveniente daquele lugar. Não alterou a
escuridão que os rodeava, mas todo o navio ficou iluminado como por um
holofote.
Caspian pestanejou, olhou em torno e viu os rostos tensos e ansiosos
dos companheiros. Olhavam todos na mesma direção, e detrás de cada um
projetava-se sua sombra escura e irregular. Lúcia viu alguma coisa no
facho de luz. Primeiro parecia uma cruz, depois um avião, depois um
papagaio e, finalmente, quando passou sobre suas cabeças, ruflando as
asas, viram que era um albatroz. Deu três voltas em torno do mastro e
depois pousou um instante no dragão dourado da proa.
Numa voz alta, forte e doce, pronunciou algumas palavras, que
ninguém entendeu. Abriu as asas de novo e recomeçou a voar lentamente à
frente do navio. Drinian seguiu a ave, vendo nela um bom guia.
Só Lúcia soube que ao revolutear em torno do mastro o albatroz
murmurara: “Coragem, querida!”. Era a voz de Aslam, e o seu hálito suave
roçou-lhe a face.
Dali a momentos, a escuridão dera lugar, lá adiante, a um nevoeiro
acinzentado e, logo depois, antes mesmo que começassem a ter esperança,
surgiram à luz do sol e sentiram novamente o mundo cálido e azul.
Compreenderam então que já não tinham nada a temer e que nunca haviam
corrido perigo real. A claridade fazia-os pestane-jar. Olhavam admirados.
O brilho do navio aturdia-os. Tinham chegado a pensar que a escuridão
aderiria aos brancos, dourados e verdes do navio, sob a forma de espuma
suja. Primeiro um, depois outro, todos desataram a rir.
– Bancamos os tolos – disse Rinelfo.
Lúcia imediatamente desceu ao convés, onde encontrou todos
reunidos em torno do recém-chegado.
Durante algum tempo este nada falou, de tão feliz que estava,
limitando-se a olhar para o mar e o sol e a tocar nas amuradas e nas cordas,
como para certificar-se de que estava realmente acordado, enquanto as
lágrimas lhe rolavam pelas faces.