Page 509 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Que  é  aquilo? –  perguntou  Lúcia, num  sussurro.  –  Parecem  três
                  castores sentados.

                         – Ou um ninho enorme – disse Edmundo.

                         – Parece mais um monte de ferro velho – opinou Caspian.

                         Ripchip correu para a frente, saltou para uma cadeira e desta para a
                  mesa  e,  com  a  elegância  de  um  dançarino,  percorreu-a  entre  taças
                  cravejadas de pedras, pirâmides de frutas e saleiros de marfim. Foi direto à
                  misteriosa forma cinzenta lá na cabeceira; espreitou, tocou e por fim gritou:
                         – Estes, creio eu, não lutam mais!

                         Os outros chegaram e viram que nas três cadeiras se sentavam três
                  homens, ainda que só fosse possível reconhecê-los como tal observando-os
                  muito  de  perto.  Os  cabelos  grisalhos  tinham  crescido  tanto  que  lhes
                  encobriam os olhos e quase lhes ocultavam o rosto; as barbas caíam sobre a
                  mesa, subindo e enrolando-se em pratos e jarros, como espinheiros numa
                  cerca,  e  toda  aquela  mata  de  pêlos  descia  da  mesa  e  tocava  o  chão.  O
                  cabelo pendia-lhes das cabeças sobre as costas das cadeiras, que estavam
                  totalmente ocultas. Eram quase só cabelos.

                         – Mortos? – perguntou Caspian.

                         – Acho que não,  majestade – respondeu Ripchip, tomando com as
                  patas uma das mãos, encontrada no matagal de cabelos. – Está quente e o
                  pulso bate.

                         – Também este – disse Drinian.
                         – Estão apenas adormecidos – disse Eustáquio.

                         – Então já dormem há muito tempo – observou Edmundo –, para o
                  cabelo ter crescido tanto.

                         – Deve ser um sono encantado – disse Lúcia. – Senti logo ao chegar
                  aqui que a terra está cheia de magia. Será que viemos aqui para quebrar o
                  encanto?

                         –  Podemos  experimentar  –  disse  Caspian,  chacoalhando  um  dos
                  dorminhocos.
                         Por um momento, todos julgaram que iria ser bem-sucedido, pois o
                  homem respirou pesadamente e murmurou:

                         – Não vamos mais para o Oriente. Fora com os remos de Nárnia! –
                  Mas caiu de novo, quase repentinamente, num sono ainda mais profundo.

                         A cabeça pesada descaiu alguns centímetros na direção da mesa, e
                  foram  vãos  todos  os  esforços  para  levantá-lo  outra  vez.  Com  o  segundo
                  aconteceu o mesmo.
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