Page 513 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Acho – disse Lúcia – que já vi algo parecido antes. Foi com uma
faca assim que a Feiticeira Branca matou Aslam, já há muito tempo, na
Mesa de Pedra.
– É esta mesma – disse a jovem. – Está aqui para ser preservada
enquanto o mundo existir.
Edmundo, que se sentia muito pouco à vontade nos últimos minutos,
falou por fim:
– Espero que não me julgue um covarde, por não comer desta
comida, quer dizer, não quero ser indelicado, mas já passamos por uma
série de aventuras estranhas, e as coisas nem sempre são o que parecem.
Quando olho para a senhora, não posso deixar de acreditar no que diz, mas
o mesmo pode acontecer com uma bruxa. Como podemos saber se é
realmente nossa amiga?
– Realmente não podem – respondeu ela. – Têm de acreditar ou não.
Ouviu-se a voz de Ripchip:
– Rei Caspian, queira ter a amabilidade de encher-me a taça com o
vinho deste jarro; é pesado para mim. Quero beber à saúde desta senhora.
Caspian obedeceu, e o rato, em pé sobre a mesa, ergueu a taça de
ouro entre as patinhas e disse:
– Minha gentil senhora, levanto esta taça em sua honra.
Atirou-se em seguida ao pavão frio. Todos lhe seguiram o exemplo,
esfomeados como estavam. Foi uma ceia excelente.
– Por que disse que esta é a Mesa de Aslam? – perguntou Lúcia.
– Foi ele que a mandou para cá, para todos aqueles que vêm parar
nesta terra tão longínqua.
– Como se conserva esta comida? – perguntou Eustáquio, com seu
modo prático de ver as coisas.
– Todos os dias se come e se torna a pôr a mesa – disse a moça –,
como terão ocasião de presenciar.
– Que faremos com os dorminhocos? – perguntou Caspian. – No
mundo de onde os meus amigos vieram existe a história de um príncipe, ou
de um rei, que chega a um castelo onde toda a gente está adormecida num
sono encantado: o encanta mento só se desfaz depois que ele beija a
princesa.
– Mas aqui é diferente – falou a moça. – Só se beija a princesa depois
de desfeito o encanto.