Page 511 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– E eu – disse Lúcia. Eustáquio ofereceu-se também. Era uma grande
                  valentia, pois nunca tinha lido dessas coisas, nem ouvido falar delas, até
                  entrar no Peregrino, de modo que para ele era pior do que para os outros.

                         – Suplico a Vossa Majestade... – começou a dizer Drinian.

                         –  Não,  meu  senhor: o  seu lugar  é no  navio; teve um  dia  cheio de
                  trabalho enquanto nós passeávamos. – Apesar de todos os argumentos de
                  lorde  Drinian,  Caspian  fez  valer  sua  vontade.  Ao  verem  a  tripulação
                  caminhar  para  a  praia  no  lusco-fus-co,  nenhum  deles  pôde  evitar  uma
                  estranha sensação no estômago.

                         Levaram  algum  tempo  escolhendo  os  lugares  na  perigosa  mesa.
                  Provavelmente  tinham  todos  o  mesmo  motivo,  mas  ninguém  o  disse  em
                  voz alta. Era uma escolha terrível, pois não seria fácil passar a noite inteira
                  ao  lado  daqueles  medonhos  cabeludos,  que,  se  não  estavam  mortos,
                  tampouco estavam vivos, no sentido comum.
                         Por outro lado, se se sentassem na outra ponta da mesa, deixariam de
                  ver os dorminhocos, à medida que escurecesse, e não poderiam saber se se
                  mexiam.  Não!  Nem  pensar  nisso!  Andavam  de  um  lado  para  o  outro,
                  dizendo:

                         – Que tal aqui?

                         – Talvez um pouco mais para lá.

                         – Aqui não é melhor?

                         Por fim instalaram-se mais ou menos no centro, a igual distância dos
                  dorminhocos e da ponta da mesa.
                         As estranhas constelações brilhavam no oeste. Lúcia teria preferido
                  que fossem Leopardo e Barco e outros velhos amigos do céu de Nárnia.

                         Enrolaram-se  nos  agasalhos  de  bordo  e  sentaram-se  quietinhos  à
                  espera.  A  princípio  ainda  tentaram  conversar,  mas  logo  silenciaram.
                  Ficaram sentados por muito tempo, ouvindo as ondas na praia. Depois de
                  algumas  horas  compridas,  viram  que  tinham  adormecido  um  pouco  e
                  acordado de repente.

                         As  estrelas  encontravam-se  em  posições  completamente  diferentes
                  das  que  haviam  ocupado  quando  as  tinham  visto  da  última  vez.  O  céu
                  estava negro, exceto no leste, onde havia uma tenuís-sima mancha cinza.
                  Tinham frio, estavam enrijecidos e sentiam sede. Ninguém falou, porque
                  todos sabiam que se passava alguma coisa.

                         Além  das  colunas  erguia-se  a vertente de  uma  pequena  colina.  Na
                  base desta, abriu-se uma porta, e uma luz surgiu no limiar. Lá de dentro
                  saiu uma figura, e a porta fechou-se atrás dela. A figura trazia uma luz, e
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