Page 516 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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uma ave voar na direção do velho, transportando alguma coisa no bico, um
                  fruto ou um carvão aceso, demasiado brilhante para se olhar.

                         As aves se calaram de repente e começaram a esvoaçar em torno da
                  mesa. Quando a deixaram, desaparecera tudo quanto houvera para comer e
                  beber. Levantaram vôo, levando todos os restos, ossos, cascas e conchas.
                  Voavam novamente em direção ao sol mas, agora que não cantavam, o ar
                  agitava-se  com  o  ruflar  das  asas.  A  mesa  estava  limpa  e  vazia.  Os  três
                  senhores  dormiam.  Só  então  o  velho  virou-se  para  os  viajantes  e  lhes
                  desejou boas-vindas.

                         –  Senhor  –  disse  Caspian  –,  poderia  dizer-nos  como  se  desfaz  o
                  encantamento destes três fidalgos de Nárnia?

                         –  Com  o  maior  prazer,  meu  filho.  Para  quebrar  o  encantamento,
                  vocês têm de navegar até o Fim do Mundo, ou o mais próximo possível
                  dele, e regressar depois, deixando lá pelo menos um de vocês.
                         – Mas que acontecerá a esse que ficar? – perguntou Ripchip.

                         – Terá de continuar até a parte mais oriental que existe e nunca mais
                  voltar a este mundo.

                         – É tudo quanto desejo – suspirou Ripchip.

                         – E estamos já bem perto do Fim do Mundo, senhor? – perguntou
                  Caspian. – Sabe alguma coisa dos mares e das terras que existem mais para
                  leste?

                         –  Há  muito que as vi  –  respondeu o  velho.  –  Mas de uma  grande
                  altura. Não posso lhes contar nada que tenha valor para os navegantes.
                         – Quer dizer que voou? – interrompeu Eustáquio.

                         – Estive muito acima do ar, meu filho. Sou Ramandu. Mas vejo que
                  se entreolham admirados e percebo que nunca ouviram este nome. Não é
                  para menos, pois quando deixei de ser estrela vocês ainda não existiam, e
                  depois disso todas as constelações mudaram.

                         –  Caramba!  –  disse  Edmundo  entre  os  dentes.  –  É  uma  estrela
                  aposentada.

                         – Não é mais uma estrela? – perguntou Lúcia.
                         – Sou uma estrela em repouso, minha filha. Quando era uma estrela
                  velha e decrépita, a tal ponto que vocês nem podem imaginar, trouxeram-
                  me para esta ilha. Agora não sou tão velho quanto antes. Todas as manhãs
                  uma ave traz para mim um fruto de fogo dos vales do Sol, e cada um desses
                  frutos  tira  um  pouco  da  minha  idade.  Quando  estiver  jovem  feito  uma

                  criança  que  tivesse  nascido  ontem,  subirei  de  novo  e,  uma  vez  mais,
                  entrarei na grande dança do espaço.
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