Page 512 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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era a única coisa que se via distintamente. Foi-se aproximando devagar, até
                  que ficou em pé, perto deles.

                         Era uma moça alta, com uma vestimenta azul-clara que lhe deixava
                  os braços nus. Os cabelos louros caíam-lhe soltos pelas costas, e só quando
                  a viram compreenderam o que era a verdadeira beleza.

                         Trazia acesa uma grande vela posta num candelabro de prata, que ela
                  pousou  sobre  a  mesa.  A  chama  da  vela  elevava-se  tão  serena  como  se
                  estivesse dentro de uma casa com as janelas todas fechadas. A prata e o
                  ouro em cima da mesa refulgiam com a luz.

                         Lúcia  reparou  num  objeto  pousado  sobre  a  mesa,  que  não  notara
                  antes. Era uma faca de pedra, afiada como se fosse de aço, parecendo muito
                  antiga  e  muito  perigosa.  Ninguém  dissera  nada.  Ripchip  e  Caspian
                  levantaram-se, pois viram logo que se tratava de uma grande senhora. Disse
                  a moça:
                         – Viajantes que vieram de tão longe para a mesa de Aslam, por que
                  não comem e bebem?

                         –  Minha senhora  –  respondeu  Caspian –,  tivemos  receio de comer
                  porque julgamos que foram as iguarias que lançaram nossos amigos neste
                  sono encantado.

                         – Eles nunca provaram destes pratos – disse a moça.

                         – Então, o que aconteceu a eles? – perguntou Lúcia.

                         –  Há  sete  anos  aportaram  aqui  num  barco,  com  as  velas  todas
                  rasgadas e as madeiras em péssimo estado. Outros vinham com eles e, mal
                  chegaram a esta mesa, disse um: “Que lugar maravilhoso!
                         Vamos parar com esta vida maluca de vela e remo.

                         Vamos viver aqui para sempre, em paz.” Mas disse o outro: “Não,
                  vamos  embarcar  outra  vez  para  Nárnia;  pode  ser  que  Miraz  já  tenha
                  morrido.”

                         Mas  o  terceiro,  um  homem  muito  altivo,  saltou  e  disse:  “Somos
                  homens e telmarinos, não somos uns brutos. Só temos uma coisa a fazer:
                  correr atrás de aventuras. Já não temos muito tempo de vida; utilizemos o
                  que  nos  resta  procurando  as  terras  despovoadas  que  estão  além  do  sol
                  nascente.” No meio da discussão, pegou a Faca de Pedra que está aqui na
                  mesa  e  quis  lançar-se  com  ela  sobre  os  companheiros.  Mal  os  dedos
                  tocaram o cabo, caiu adormecido, assim como os outros dois. E até que se
                  desfaça o encantamento nunca mais acordarão.

                         – Que Faca de Pedra é essa? – indagou Eustáquio.

                         – Ninguém sabe? – perguntou a moça.
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