Page 601 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Trompas de caça – cochichou Eustáquio.

                         – Nada de correr! – falou Brejeiro. – Só quando eu mandar.

                         Jill não resistiu à vontade de dar uma olhadela para trás. A menos de
                  um quilômetro, os caçadores retornavam, à esquerda.

                         Continuaram  a  passo.  De  repente  ouviu-se  um  grande  clamor  de
                  vozes e gritos. Brejeiro bradou:
                         – Já nos viram: corram!

                         Jill juntou as saias compridas – “Que coisa mais chata fugir desse
                  jeito!” – e correu. Não havia engano possível. Já podia distinguir a melodia
                  das trompas. Ouvia a voz do rei, berrando: “Peguem, peguem, não deixem
                  fugir meus pastelões.”

                         Era a última na corrida, atrapalhada com o vestido, escorregando em
                  pedras soltas, os cabelos entrando na boca, o peito doendo. E as trompas
                  cada vez mais próximas. Tinha agora de subir a colina, galgando a encosta
                  pedregosa que conduzia ao primeiro degrau da escada dos gigantes. Não
                  sabia o que poderiam fazer chegando lá, mas não adiantava pensar nisso.
                  Sentia-se uma caça: com a cachorrada atrás dela, tinha de correr até não
                  poder mais.

                         O  paulama  ia  na  frente.  Chegando  ao  primeiro  degrau,  deu  uma
                  parada,  olhou  à  direita,  e  entrou  velozmente  por  uma  fenda;  as
                  compridíssimas pernas, quando desapareceram, fizeram lembrar outra vez
                  uma  aranha.  Eustáquio,  depois  de  certa  hesitação,  sumiu  atrás  dele.  Jill,
                  cambaleando e ofegante, chegou ao local um minuto depois. A fenda nada
                  tinha  de  convidativa:  aberta  entre  a  terra  e  a  pedra,  tinha  menos  de  um
                  metro de  comprimento e pouco  mais de trinta  centímetros de  altura.  Era
                  preciso raspar o chão para entrar. Levava algum tempo. Jill tinha a certeza
                  de  que  seu  calcanhar  seria  agarrado  por  um  cachorro  antes  de  chegar  lá
                  dentro.

                         – Rápido. Pedras. Tampem a saída.
                         Era a voz de Brejeiro no escuro, a seu lado. Só chegava ao buraco a
                  luz  cinzenta  que  coava  pela  fenda.  Jill  ainda  conseguia  ver  as  pequenas
                  mãos  de  Eustáquio  e  as  grandes  mãos  de  sapo  de  Brejeiro  a  empilhar
                  grandes pedras com a rapidez do desespero. Entendeu logo a importância
                  daquilo e começou a ajudar. Antes que os cães começassem a latir e ganir,
                  a boca da fenda estava tampada. Agora, naturalmente, a luz se fora.

                         – Mais adiante, depressa – comandou a voz de Brejeiro.

                         – De mãos dadas – gritou Jill.

                         – Boa idéia – falou Eustáquio, mas não foi muito fácil encontrar as
                  mãos no escuro.
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