Page 602 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Os cães já fungavam lá fora.

                         – Vamos ver se podemos ficar em pé – sugeriu Eustáquio.

                         Podiam. Brejeiro estendeu a mão para trás a Eustáquio, este estendeu
                  a mão para Jill, que teria preferido mil vezes ser a do meio, e não a última.
                  Começaram  a  avançar  experimentando  o  chão  com  os  pés  e  tropeçando
                  para  a  frente  na  escuridão.  Brejeiro  deu  com  uma  parede  de  rocha.
                  Viraram-se um pouco para a direita e prosseguiram. Existiam outras curvas
                  e  voltinhas.  Jill  não  tinha  o  menor  senso  de  direção,  ignorando  por
                  completo onde ficara a boca da caverna. Ouviu-se a voz de Brejeiro:

                         – O problema é saber o que seria melhor: voltar (se for possível) e
                  proporcionar um grande prazer aos gigantes; ou enfrentar os dragões que
                  devem existir neste buraco. De minha parte...
                         Tudo aconteceu num átimo. Ouviu-se um grito selvagem, um ruído
                  de  pedras  despencando,  e  Jill  viu-se  a  escorregar,  escorregar,  escorregar
                  sem esperança, cada vez mais velozmente, por uma descida cada vez mais
                  íngreme. E não era uma descida macia e firme, mas feita de pedrinhas e
                  detritos. Ia escorregando mais deitada do que em pé. E quanto mais os três
                  deslizavam  para  baixo,  mais  coisas  se  desconjuntavam,  mais  barulhento,
                  mais empoeirado, mais precipitado ficava aquele escorregar sem fim. Jill
                  pensou  que  as  pedras  que  ela  ia  descolando  ao  passar  deviam  estar
                  machucando  horrivelmente  Eustáquio  e  Brejeiro.  Deslizando  a  uma
                  velocidade espantosa, estava certa de que se partiria em pedacinhos quando
                  chegasse ao fundo.

                         Nem  tanto.  Ela  tinha  ferimentos  por  todo  o  corpo,  é  verdade,  e  a
                  coisa espessa e úmida em seu rosto parecia sangue. Havia tanta terra, tanta
                  pedra  e  tanta  coisa  ao  redor  dela,  e  até  em  cima,  que  não  conseguiu
                  levantar-se. A escuridão era tanta que dava no mesmo abrir ou fechar os
                  olhos. Silêncio absoluto.

                         Foi o pior momento da vida de Jill, que se pôs a imaginar se estaria
                  ali sozinha... se os outros...

                         Percebeu movimentos perto. Os três começaram, com a voz trêmula,
                  a verificar se alguém tinha quebrado algum osso.

                         – A gente não vai ficar em pé nunca mais – disse a voz de Eustáquio.
                         – Já notaram como está quentinho aqui? – Era a voz de Brejeiro. –
                  Devemos ter escorregado um bocado, um quilômetro, por aí.

                         Depois de um silêncio, voltou a voz de Brejeiro:

                         – Minha binga sumiu.

                         Nova longa pausa. A voz de Jill :
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